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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Time come arroz frio e mortadela na véspera de jogo: "Desumano"

Líder do returno do campeonato estadual, com 100% de aproveitamento, o Piauí vive uma crise enquanto disputa uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro. Em excelente momento dentro de campo, o Enxuga Rato passa por um ambiente interno conturbado. 

O clube rubro-anil está com dois meses de salários atrasados, segundo relatos dos jogadores, e não treina desde a última quarta-feira em sinal de protesto.

E a insatisfação do elenco não se restringe às folhas em débito. A estrutura, principalmente a comida, é alvo de reclamações. Um dos lanches dados na véspera de uma partida do torneio foi arroz com mortadela. Para jogar no último sábado, na vitória em cima do Parnahyba, o time recebeu R$ 100. A diretoria financeira negou com veemência as denúncias do time e afirmou que a quitação dos vencimentos é prioridade.

Complicado uma situação dessas. A pior coisa é ser pai de família, ouvir seu filho querendo comprar alguma coisa e você, sem nenhum dinheiro, falar a ele que não pode comprar. Me pergunto o motivo de aguentarmos essa situação, somos homens e honramos o nosso trabalho, deve ser por isso. Se fechar, seria pior... Resolvemos, então, fazer greve e não treinamos na semana. Aqui tem jogador que não tem comida, não existe suplemento alimentar. Às vezes, não tem dinheiro para comprar sabonete. Falta tudo, isso não é um time profissional - revelou um dos jogadores o Piauí.

Para não ter que pagar despesas com hospedagens, o clube decidiu fazer viagens nos dias de jogo. Na estreia do returno do Piauiense, contra o Picos, o time saiu de Teresina no começo da tarde, enfrentou pouco mais de 300km de estrada e chegou a menos de uma hora do início da partida no estádio Helvídio Nunes. Jogou, venceu por 2 a 1 e retornou na madrugada de volta.

Desumano. Estamos viajando no mesmo dia, foi assim a Parnaíba (330km) e Floriano (234Km). No caminho de Picos, fomos com fome, comemos um pão de forma, um sanduíche no meio da estrada. À noite, na véspera de um jogo, foi dado no lanche arroz frio e mortadela. Remédio é o próprio jogador que compra. Não tem campo para fazer coletivo porque o mato toma de conta, não tem ninguém para cortar - narra outro jogador.

De acordo com relatos, os rubro-anis receberam uma vale de R$ 150 no mês de fevereiro e, depois, um outro no valor de R$ 300.

Jogadores não têm carteira assinada. Recebemos no fim de semana R$ 100 para jogar. Chegou a nosso extremo. Já recebemos pouco - alguns com um salário mínimo - e precisamos do que é nosso. Os jogadores têm medo de falar, de serem mandados embora, tem medo da repressão. Fazer futebol assim é brincadeira - comentou um atleta.

Um racha entre diretores é o motivo contado pelos jogadores para a situação ter chegado a esse ponto. O clube não tinha dinheiro para participar do Campeonato Piuiense, mas recebeu apoio de um grupo investidor para pôr o time no estadual. A queda de braço entre esses lados acentua ainda mais a crise, e os atletas se queixam que não sabem a quem recorrer.

Há uma briga política. Chega ao ponto de um diretor dizer que só paga quando o presidente deixar o cargo. Ligamos para o diretor financeiro cobrando os salários, e o diretor disse que temos que ligar era para o presidente. Não queremos mais conversa, só queremos o nosso dinheiro. Só ficam nos enrolando, prometendo, estão acabando com os atletas... - revelou um atleta do clube após a vitória por 2 a 1 sobre o Parnahyba.

A vitória na rodada passada emocionou o time rubro-anil. O goleiro Lucas Paulista foi às lágrimas na entrevista coletiva ao relembrar a semana delicada vivida no centro de treinamentos.

Procurado pela reportagem, o diretor financeiro do Enxuga Rato, Pedro Evano, negou as condições precárias de alimentação dos 16 jogadores alojados no CT da Usina Santana, zona Sudeste de Teresina.

Não procede. Alimentação tem toda semana. São R$ 1500 de alimentação para compra todo domingo. São 16 jogadores alojados e todos eles têm alimentação normal. Com relação à alimentação, não vamos deixar eles passarem necessidade. Mas as condições de trabalho estão normais. O problema mesmo é só o salário, que é um mês e meio atrasados. Março venceu agora. A gente pagou janeiro e metade de fevereiro. Então, temos uma folha e meia em aberto - detalhou.


Jogador revela comida oferecida pelo Piauí antes de partida do estadual.
 
Ainda de acordo com o dirigente, o pagamento dos vencimentos está condicionado a um repasse prometido pelo Governo do Estado aos clubes.

Não tem nenhuma previsão. Enquanto não sair esse repasse do governo... Governo prometeu a todos os clubes, mas ainda não saiu. O processo está na procuradoria do estado, aguardando parecer. Os salários são prioridade.

Fonte:Globo Esporte

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