Dom Jaime Vieira: ‘Robinson está com todo zelo, querendo acertar’

O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), foi à Região Seridó, nesta terça-feira, um dia após a leitura da mensagem anual na Assembleia Legislativa. Acompanhado dos deputados estaduais Nélter Queiroz (PMDB) e do provável futuro líder do governo na Assembleia, Fernando Mineiro (PT), o chefe do executivo potiguar foi dar atenção à questão hídrica estadual, especificamente ao andamento da construção da barragem de Oiticica, uma solução hídrica que alcança mais de um milhão de beneficiados nas regiões circunscritas.

O fator “combate à seca” é um dos itens que devem ser tratados com prioridade pelo governo, reconhece o chefe da Igreja Católica no RN, o arcebispo de Natal Dom Jaime Vieira Rocha. Em entrevista a O Jornal de Hoje, o líder religioso ressaltou que o momento é de dificuldade, mas elogiou posturas iniciais da gestão estadual.

Cortar a ajuda de custo que daria a alguns municípios para atender o carnaval deste ano, por exemplo, de acordo com Dom Jaime, “foi uma decisão muito acertada” do governador.  “Nós estamos realmente em uma situação dificílima. A barragem Armando Ribeiro está a nível baixíssimo e os açudes todos do Estado estão quase sem água. Isso é muito sério e é preciso que nós nos voltemos para ações que já estejam se antecipando a uma crise muito profunda”, alertou o arcebispo.

No tocante à questão hídrica, Dom Jaime afirma que o planejamento e a execução da política pública deve ter foco na prevenção. “Precisamos nos antecipar um pouco com o que vamos fazer com a água do rio São Francisco. O projeto está para chegar ao RN. Como ela vai ser utilizada? Como é que vamos administrá-la? É preciso envolver as pessoas, a sociedade civil, o clero, enfim”. Para ele, o desabastecimento em São Paulo, maior cidade do País, gera reflexões para todo o Brasil quanto à necessidade de se efetivar políticas públicas hídricas. “Isso deve nos conduzir à reflexão de que saibamos lidar melhor com a água”, conclui.

RESIDÊNCIA

Abrir mão de gastar dinheiro público com residência oficial, minimizando despesas como alimentação, água, luz, telefone e pessoal, também foi uma postura elogiável do governador Robinson Faria, segundo a visão do arcebispo dom Jaime Vieira Rocha. “Robinson tem alguns gestos bastante visíveis. A recusa de uma residência oficial já significa uma economia considerável para o Estado. E são gestos assim que trazem a certeza de que ele está com o desejo de acertar e de fazer um bom percurso”, disse.

O líder católico ressaltou, todavia, que o desafio do governador é dobrado, haja vista o momento em que ele assume a responsabilidade pelo Estado – ano de previsíveis dificuldades econômicas, com consequências para o Estado. “Não é fácil, pois não dependemos apenas do que queremos, mas de todo um contexto, não só estadual, mas nacional e mesmo internacional. Nós vemos aí como o mundo está”. Segundo Dom Jaime, “há uma dúvida muito grande, em termos de recursos, e o governo atual do RN deve ter muita sensibilidade para contar com o apoio da sociedade como um todo, somar esforços para que ele possa sair adiante, porque, certamente, não será fácil”.

Apesar de estar só no início, o arcebispo aponta uma deficiência de Robinson do ponto de vista administrativo. Segundo ele, há setores do governo que estão sem comando. “Ainda tem umas secretarias para serem preenchidas”, lembrou. Entretanto, Dom Jaime convoca a sociedade para participar das mudanças que devem ser empreendidas na gestão pública estadual. “Sem a participação visível e decisiva do povo e da população, sobretudo dos jovens, essas mudanças serão muito difíceis. Mas nós temos esperanças e tenho a impressão de que o novo governo do Estado está com todo zelo e querendo acertar”.

Arcebispo critica ‘negligência muito grande’ de governantes no Petrolão

Ao abordar o cenário nacional, Dom Jaime Vieira Rocha disse lamentar profundamente o escândalo na Petrobras. Para ele, houve “negligência muito grande daqueles que estavam à frente do governo”, sem explicitar o ex-presidente Lula e a atual presidente Dilma Rousseff. Contudo, ele considera que a prática da corrupção “está visceralmente ligada à história do País”, historicamente.

“Lamento profundamente isso que nós estamos vivendo. Acho que houve negligência muito grande por parte daqueles que estavam à frente do governo. Porém, é bom que se diga que essa prática está visceralmente ligada à história de nosso País, sobretudo da política”.

Apesar de criticar a negligência governamental, Dom Jaime Vieira considera que houve conquistas institucionais no combate à corrupção. “Algumas pessoas até se recusam a assumir um cargo público porque dizem que depois não terão verbas suficientes para gastar com advogados em vista das implicações de prestações de contas. Então, a questão da responsabilidade fiscal é algo muito importante, são conquistas importantes. Os mecanismos de controle estão ai. Agora as pessoas são negligentes e tratam da coisa pública como sendo algo particular e isso é muito grave”.

Dom Jaime não exime a chamada grande mídia de responsabilidade nos acontecimentos do Brasil. “Não nego todos esses escândalos que são estarrecedores e nos entristecem, mas é preciso que reconheçamos que é necessário que haja isenção político/partidária. Claro que as pessoas hoje têm a sua liberdade de ver a realidade de acordo com a sua mente, com aquilo que dispõe em termos de informações, mas, para mim, nós não podemos negligenciar na perda de conquistas que foram importantes para o país”.

Entre as conquistas, o arcebispo diz que o Brasil avançou, a renda melhorou, a seca está presente, mas o povo não está saqueando as cidades porque não há fome tão intensa como havia antes. “Há diversas realidades que nós precisamos constatar, como mudanças e melhorias que precisam ser aperfeiçoadas e realmente eu vejo como a necessidade de uma corresponsabilidade de todo brasileiro, zelando para que pelo menos a democracia se aperfeiçoe e não haja atropelos, o que seria muito negativo”.

Jornal de Hoje