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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Na reta final da campanha eleitoral, pesquisas podem dizer tudo ou nada

O alerta é de Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, em artigo publicado no Correio Braziliense desta quarta-feira:

Nestes últimos dias antes das eleições, a mídia está sendo inundada por pesquisas. No conjunto do país, menos que em anos anteriores. Por opção editorial da TV Globo, as pesquisas eleitorais contratadas por ela e suas retransmissoras são agora noticiadas somente nos telejornais locais.

Como é, de longe, a maior compradora de pesquisas destinadas à divulgação, sua decisão tem consequências relevantes. Implica uma municipalização da informação a que tem acesso a maioria da população, para a qual a TV é (ainda) a fonte de notícias primordial.

Os paulistas ficam apenas sabendo sobre São Paulo, os cariocas sobre o Rio de Janeiro e os manauaras sobre Manaus. (Sem esquecer que o sinal de televisão gerado em um município pode alcançar outros.)

Mesmo assim, é muita informação de pesquisa que o cidadão vai receber de hoje a domingo.

Para atravessar sem sobressaltos a enxurrada, alguns lembretes:

1) As pesquisas refletem situações de opinião momentâneas.

É um velho chavão, mas verdadeiro: as pesquisas retratam a situação da opinião pública no momento em que são realizadas.

Sua capacidade preditiva depende da disponibilidade de séries históricas mais completas e do grau de cristalização da decisão dos eleitores.

Nas eleições gerais, especialmente presidenciais, a maioria das pessoas decide cedo, o que torna possível identificar, até com grande antecedência, o provável vencedor. Ainda assim, como vimos em 2010, muitos só se resolvem na última hora, o que pode provocar surpresas — como o desempenho de Marina Silva.

Nas eleições municipais, acontece o contrário. A decisão é tardia. Pelo que temos visto, é grande a proporção dos que escolhem a caminho da urna.

Ou seja: não seria estranho que as pesquisas da véspera apontassem números diferentes dos resultados reais da eleição. É assim mesmo.

2) As pesquisas têm margem de erro.

Quem as acompanha sabe que toda pesquisa possui algo chamado “margem de erro”. Que os números publicados não são exatidões aritméticas, mas probabilidades.

O problema é esquecer disso na hora de avaliar resultados. A famosa variação, de tantos pontos percentuais “para cima” e “para baixo”, é para ser sempre lembrada.

3) Esta eleição está sendo anormalmente afetada por fatores políticos externos.

A desnecessária e totalmente indesejável coincidência do “julgamento do mensalão” com o processo eleitoral cria um ambiente de desconfiança generalizada no sistema político.

Quem apostava que o único prejudicado seria o PT, se enganou. O que estamos vendo é o descrédito da política e dos partidos de maneira geral. É a ideia de representação, a mais importante na democracia, que sofre.

E não adiantam as vagas perorações em favor dos “bons políticos”, que ouvimos de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, para remendar o estrago que estão causando.

Não sabemos em quanto isso poderá afastar da urna o eleitor, diminuindo o comparecimento ou aumentando os votos brancos e nulos. Por isso, as pesquisas podem ficar ainda mais incertas.

4) Sempre haverá controvérsia a respeito das pesquisas.

Por mais institucionalizadas que sejam as pesquisas eleitorais na cultura política de um país, ainda assim elas geram polêmicas.

Nas atuais eleições nos Estados Unidos, berço de tudo que se faz no mundo nessa matéria, por exemplo, elas estão sendo questionadas pelos conservadores. Acreditam que a “grande imprensa liberal e progressista” (Pasme-se! Isso existe por lá!) prejudica seu candidato, o republicano Mitt Romney.

Não é verdade. Como não é verdade, aqui, que os institutos “errem” de propósito em benefício de alguém.

Podem não “acertar” sempre, mas tentam.

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