A polícia deteve na manhã desta segunda-feira (28) um dos donos da
boate Kiss e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, segundo
informações do delegado Sandro Meinerz. Um incêndio no momento em que o
grupo musical se apresentava na madrugada do domingo deixou 231 mortos
na casa noturna de Santa Maria (RS).
Elissandro Sphor, conhecido como Kiko, um dos donos da casa noturna,
foi preso em um hospital de Cruz Alta, que fica a 132 km da capital. O
vocalista e um responsável pela segurança do palco da banda foram
detidos na cidade Mata, a 82 km de
Porto Alegre.
Eles tiveram o pedido de prisão temporária de cinco dias decretada pelo juiz Regis Adil Bertolin
durante
a madrugada desta segunda-feira. O vocalista do grupo que se
apresentava no momento do incêndio foi detido durante o velório do
gaiteiro Danilo Jaques, no município de Mata, na região central. O
segurança da banda também foi localizado na cidade.
O outro proprietário da casa noturna também teve prisão temporária
decretada, mas ainda não foi localizado pela polícia. Ele é considerado
foragido.
"Desde a madrugada, estávamos monitorando as casas dos donos da boate e
com equipes de policiais nas ruas tentando localizá-los", disse ao
G1 o delegado Sandro Meinerz.
Em entrevista à Rádio Gaúcha antes da prisão de Kiko, o advogado Jader
Marques disse que o dono da boate foi a Cruz Alta para se submeter a um
tratamento de desintoxicação e que a viagem foi informada para as
autoridades. Ele também disse que seu cliente prestou todo atendimento
às vítimas.
"Esta tragédia também está marcando o Kiko e toda a sua família. Todas
as pessoas naquela boate eram amigas dele. Ele esteve lá recebendo,
atendendo. Perdeu funcionários", disse o advogado.
DepoimentoEm
depoimento à Polícia Civil, Sphor disse que sabia que o alvará de
funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação. Ele
também culpou a banda Gurizada Fandangueira pelo início do incêndio,
segundo o delegado Sandro Meinerz.
O dono da boate Kiss também negou tenha ordenado aos seguranças que
impedissem a saída dos jovens da festa na hora que o fogo começou.
Sphor, que estava na boate quando a tragédia ocorreu, negou ainda ter
retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas
câmeras de segurança da boate. O gravador sumiu do local, segundo
Meinerz, responsável pelo caso.
Incêndio
O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo, durante a
apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores
para uma espécie de show pirotécnico. Segundo relatos de testemunhas,
faíscas de um equipamento conhecido como "sputnik" atingiram a espuma do
isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se
espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.
O incêndio provocou pânico e muitas pessoas não conseguiram acessar a
saída de emergência. A festa "Agromerados" reunia estudantes da
Universidade Federal de Santa Maria, dos cursos de pedagogia, agronomia,
medicina veterinária, zootecnia e dois cursos técnicos.
Pelo menos 101 das vítimas identificadas eram estudantes da
Universidade Federal de Santa Maria, segundo informou a instituição em
sua página na internet.
O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do
Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.
Público
O número de total de pessoas que estavam no interior da boate Kiss no
momento em que o incêndio começou ainda é desconhecido. Segundo
informações da própria casa noturna, a capacidade máxima é para mil
clientes.
De acordo com o delegado Sandro Meinerz, que é responsável pela
perícia, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta
de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas.
O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto
de 1,5 mil.
Estudantes que sobreviveram à tragédia relataram que, inicialmente,
seguranças da boate tentaram impedir a saída dos clientes, mas que logo
perceberam a fumaça e liberaram a passagem.
O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das
vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou
morrendo. "Tirei mais de 180 pessoas dos banheiros. Eles estavam
tentando fugir", disse.
Resgate
Muitas pessoas que conseguiram sair da boate ajudaram a socorrer as
vítimas. "A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente
saía só de calcinha e cueca, muitas sem camiseta, talvez para se
proteger da fumaça", disse o jovem Murilo de Toledo Tiecher.
g1.com.br/rs.