O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal
Federal (STF) abertura de inquérito contra o ex-presidente José Sarney,
os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e o ex-diretor da Transpetro
Sérgio Machado por possível crime de embaraço às investigações na
Operação Lava Jato. As manobras dos políticos para interferir nas
investigações foram detalhadas por Sérgio Machado em acordo de
colaboração premiada.
No
Termo de colaboração 10, o ex-diretor da Transpetro explicou o conteúdo
de cerca de seis horas de conversas gravadas com os outros envolvidos,
que demonstram a motivação de estancar e impedir, o quanto antes, os
avanços da Operação Lava Jato em relação a políticos, especialmente do
PMDB, do PSDB e do próprio PT, por meio de acordo com o Supremo Tribunal
Federal e da aprovação de mudanças legislativas.
Segundo
o procurador-geral, o objetivo dos congressistas era construir uma
ampla base de apoio político para conseguir, pelo menos, aprovar três
medidas de alteração do ordenamento jurídico em favor da organização
criminosa: a proibição de acordos de colaboração premiada com
investigados ou réus presos; a proibição de execução provisória da
sentença penal condenatória mesmo após rejeição dos recursos defensivos
ordinários, o que redunda em reverter pela via legislativa o julgado do
STF que consolidou esse entendimento; e a alteração do regramento dos
acordos de leniência, permitindo celebração de acordos independente de
reconhecimento de crimes.
Janot
argumenta que há "elementos concretos de atuação concertada entre
parlamentares, com uso institucional desviado, em descompasso com o
interesse público e social, nitidamente para favorecimento dos mais
diversos integrantes da organização criminosa", buscando, por via
legislativa, atingir decisão da Suprema Corte sobre cumprimento das
penas após a decisão de 2ª instância e enfraquecer o instrumento da
colaboração premiada, amplamente empregado na Operação Lava Jato.
Outra
forma de obstrução, segundo o pedido de inquérito, consistia na redução
de poderes do Judiciário e do Ministério Público mediante a realização
de nova constituinte. Para Janot, trata-se de atos estatais que visam a
sabotar o próprio Estado, na sua vertente de repressão ao crime
organizado. "É chocante, nesse sentido, ouvir o senador Romero Jucá
admitir, a certa altura, que é crucial 'cortar as asas' da Justiça e do
Ministério Público, aduzindo que a solução para isso seria a Assembleia
Constituinte que ele e seu grupo político estão planejando para 2018",
diz.
Já
no Judiciário, eles buscariam cooptar ministros do STF para anistiar
envolvidos na investigação ou para assegurar a manutenção da validade
das proposições legislativas almejadas, de forma que a Suprema Corte não
as declarasse, posteriormente, inconstitucionais. “Não bastasse a trama
para mudar a legislação, os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá e o
ex-presidente José Sarney ainda revelam o plano de incluir o Supremo
Tribunal Federal, reserva necessária de sobriedade institucional, na
costura política de um grande acordo espúrio para evitar o avanço do
complexo investigatório”, afirma o PGR.
Do Diário do Poder