O acordo que possibilitou a renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à
presidência da Câmara consistiu em lhe dar uma sobrevida ao fazer com que seu
processo retorne ao Conselho de Ética.
Em uma articulação da qual participaram
o presidente interino, Michel Temer, o presidente da Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ), Osmar Serraglio (PMDB-PR), além de outros parlamentares do PMDB
e de partidos da base, ficou decidido que, em troca da renúncia, o processo de
cassação do mandato do qual Cunha é alvo será devolvido, de ofício, ao
Conselho.
O acordo foi fechado na
noite de quarta-feira. Logo após anunciar sua renúncia, nesta
quinta-feira, Eduardo Cunha se dirigiu à CCJ, onde protocolou um aditamento
pedindo que seu processo seja devolvido ao Conselho de Ética, argumentando que
seu julgamento no colegiado ocorreu levando em conta que ele presidia a Câmara,
situação que agora mudou. O ofício será encaminhado ao relator do processo de
Cunha na CCJ, deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF), que dará parecer favorável ao
pedido para devolvê-lo ao Conselho de Ética. Logo após, Osmar Serraglio, deverá
dar despacho favorável à devolução do processo.
Após receber o ofício, Serraglio
cancelou a sessão da CCJ da próxima segunda-feira quando seria votado o recurso
de Cunha, alegando que irá analisar o processo para evitar nulidades.
— Cancelei para que não haja nenhuma
nulidade — disse Osmar.
A articulação foi baseada na constatação
de dois fatos: o primeiro era que, na CCJ, Eduardo Cunha sairia derrotado na
votação do relatório de Ronaldo Fonseca, que acatou parcialmente seu pedido de
anular a aprovação do processo no Conselho de Ética. Em segundo lugar, tanto o
governo, quanto parte significativa dos parlamentares pretendiam dar um
desfecho, o mais breve possível, para a situação de instabilidade no comando da
Câmara. Como Cunha estava tentando jogar sua renúncia apenas para depois do
recesso, foi construído o acordo para antecipar sua saída e possibilitar uma
nova eleição para a presidência da Casa.
Para os participantes da articulação,
está claro que a manobra não salvará Cunha da cassação do mandato, mas lhe dará
uma sobrevida para trabalhar em sua defesa no Supremo Tribunal Federal (STF) e
negociar uma saída para sua mulher, Cláudia Cruz, também ré na Lava-Jato, e sua
filha Danielle Dytz, investigada na operação.
Há uma forte preocupação, tanto no
Palácio do Planalto, quanto entre os parlamentares, com a possibilidade de
Cunha passar a tomar “atitudes desesperadas” para proteger sua família e a si
mesmo. Foi para aliviar este cenário que foi costurada a solução da renúncia em
troca da devolução de seu processo ao Conselho de Ética.
O Globo