Vai começar em 16 de agosto um espetáculo político diferente: uma
eleição municipal em que as contribuições de empresas privadas estão
proibidas. Considerando-se a estatística repassada por João Santana a
Sérgio Moro —“98% das campanhas no Brasil utilizam caixa dois”—,
pode-se intuir que a verba que circula por baixo da mesa vai aumentar.
Se esse dinheiro saísse do bolso dos candidatos ou das caixas
registradoras que os apoiam, tudo bem. O diabo é que cada centavo tem
uma única origem: os impostos que o eleitor entrega ao fisco.
Antônio Ermírio de Moraes costumava definir a política como “a arte
de pedir recursos aos ricos, pedir votos aos pobres e mentir para ambos
na sequência.” Nessa formulação, somente o político é vilão. O
oligarca faz companhia ao desafortunado no papel de vítima dos
políticos venais. Traído pelo destino, Ermírio morreu em agosto de
2014, cinco meses após a explosão da Lava Jato. Uma pena. Vivo, o
mandachuva Votorantim seria compelido a reformular sua tese.
Se o petrolão demonstrou alguma coisa é que a política no Brasil não
passa de um conluio entre as oligarquias política e empresarial, para
assaltar o eleitorado em dia com o fisco e usar parte do produto do
roubo no financiamento da propaganda eleitoral que o fará de idiota.
Quem não quiser passar por imbecil, deve tomar suas precauções. A
primeira delas é fugir de candidatos marquetados. Sob pena de eleger a
melhor encenação, não o melhor prefeito.
Nunca foi tão fácil detectar os cleptocandidatos. Além de proibir a
verba empresarial, as regras eleitorais fixam um teto para a tesouraria
dos comitês. O pé-direito do caixa varia de R$ 108 mil, valor máximo
de uma campanha à prefeitura dos municípios com menos de 10 mil
eleitores, até R$ 45,4 milhões, limite estabelecido para a cidade de
São Paulo. Num cenário ideal, os próprios adversários cuidarão de
denunciar os excessos. Com sorte, alguns atores enxergarão o novo
momento do país.
Estão na cadeia empresários poderosos como Marcelo Odebrecht,
políticos influentes como José Dirceu, gerentes de arcas partidárias
como João Vaccari Neto, ex-diretores da Petrobras como Renato Duque e
até um marqueteiro do porte de João Santana. A corrupção agora dá
cadeia, eis a novidade. Se os empresários tivessem amor às suas
logomarcas, fechariam o caixa dois. Se os políticos tivessem vergonha
na cara, fariam da tesouraria limpa um mote de campanha. Se o eleitor
tivesse juízo, fugiria de candidatos marquetados.
Quanto mais rica a campanha, maior a mistificação. Quanto mais tempo
de propaganda no rádio e na tevê, mais inconfessáveis os acordos que
aumentaram a coligação partidária. Se quisessem ser levados a sério, os
partidos deveriam começar o debate sobre uma reforma eleitoral por
duas providências simples.
Numa, a propaganda cinematográfica seria substituída por debates ao vivo entre os candidatos, transmitidos por um pool
de emissoras e pela internet. Noutra, partidos que deixassem de
apresentar candidatos no primeiro turno para vender seu tempo de tevê
perderiam automaticamente a vitrine eletrônica e a verba do Fundo
Partidário.
UOL
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