terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mobilização 'Copa pra quem?' reúne pastorais sociais e movimentos para discutir Mundial de 2014

comite copa
  A mobilização ‘Copa pra quem?’ que acontece no dia 1º de dezembro pretende mobilizar diversos movimentos sociais e instituições de São Paulo para discutir a realização da Copa de 2014.

A manifestação acontece no mesmo dia em que a FIFA fará o sorteio dos grupos da Copa das Confederações, que antecede o Mundial de 2014.

O evento articulado pelo Comitê Popular da Copa, que integra diversos grupos e movimentos sociais com expressão nas 12 cidades que sediarão as partidas da Copa, fará uma caminhada até o local onde será feito o sorteio, o Anhembi.

O Comitê Popular da Copa de São Paulo destaca os interesses políticos e econômicos em detrimento dos direitos humanos.  

Caci Amaral, coordenadora da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo, citou em artigo na página da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo os problemas acarretados com a realização deste tipo de evento esportivo mundial.

“Não podemos repetir erros cometidos em Portugal, na África do Sul ou no Rio de Janeiro, por ocasião da realização de grandes esportivos, onde hoje, estádios e instalações, construídos com dinheiro público, não servem à população local”.

A coordenadora destacou a necessidade da participação popular nas decisões, a transparência do dinheiro público e a busca de benefícios que sejam permanentes para a população da cidade-sede.   

Roberval Freire, coordenador da Pastoral dos Migrantes, na Arquidiocese de São Paulo, que integra o comitê na capital destacou a participação de diversas pastorais da Arquidiocese de São Paulo na manifestação que acontece em dezembro.

Segundo Roberval, diversas denúncias estão sendo feitas pelo Comitê no sentido de alertar a população sobre as violações de direitos humanos e conscientizá-la de seu papel nas decisões.

Roberval concedeu entrevista ao Portal A12 e falou sobre a motivação da mobilização, o envolvimento das pastorais e os alertas feitos pelos diversos comitês.

Portal A12 – Por que “Copa pra quem?”?
Roberval Freire – Infelizmente a Copa 2014 não é do povo brasileiro. Por mais que a gente goste de futebol, temos que enfrentar esta realidade: os cartolas da FIFA e CBF mandam e desmandam e o objetivo mesmo está no lucro que a Copa vai dar. Já estão usufruindo de bilhões de reais, nos contratos que envolvem o dinheiro público. É, também, no quanto os negócios irão render. Em resumo: uma Copa pra o turista que irá consumir marcas e produtos da copa.

Muitos impactos este mega evento já trouxe: exploração de trabalhadores migrantes, despejos, indenizações insuficientes (quando existiram), comprometimento das políticas públicas nos municípios envolvidos, política “higienista”, com sistemática criminalização e expulsão dos pobres das áreas valorizadas ou praças públicas.

Portal A12 – Qual o envolvimento da Arquidiocese de São Paulo nessa mobilização? Quais pastorais e movimentos católicos estão envolvidos?
Roberval Freire – Numa reunião, em São Paulo, dia 10 de outubro, da Comissão para a Caridade Justiça e Paz, as pastorais e organismos da Arquidiocese, com seu coordenador, Dom Milton Kenan (bispo auxiliar da Região Brasilândia), decidiram aceitar o convite para participar do Comitê Popular da Copa, de São Paulo, que estava organizando um ato público para 1º de dezembro, dia em que a FIFA planeja sortear as chaves (grupos) dos times para a Copa das Nações, prevista para julho de 2013.

Ao longo das três reuniões ocorridas, a Comissão da Arquidiocese de São Paulo esteve representada por 8 pastorais: Pastoral do Povo da Rua, Pastoral Afro, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral do Menor, Pastoral da Moradia, Pastoral do Idoso, Serviço Pastoral dos Migrantes e Pastoral da AIDS. Em conjunto, as pastorais reafirmavam suas reivindicações, já há tempos: pelo fim dos despejos e das remoções; por moradia digna para toda a população; por respeito e políticas públicas para a população de rua; pelo fim da violência policial e do genocídio da população negra e pobre; pelo fim da perseguição aos trabalhadores informais; por transporte público, barato e de qualidade para toda a população, entre outras. Em uma das reuniões, as pastorais convidaram um jornalista do jornal da Arquidiocese, O São Paulo, o qual publicou uma boa matéria a respeito.

Portal A12 – Quantas pessoas são esperadas para o evento?
Roberval Freire – Para o evento de 1º de dezembro, 13hs, na Ocupação da Rua Mauá, 340, Estação da Luz, são esperadas cerca de duas mil pessoas, de dezenas de organizações e redes articuladas. Nas paradas iremos abordar a questão da moradia, com a especulação imobiliária da cidade, despejos, direito à cidade; a questão do povo da rua, criminalizado, desrespeitado na sua cidadania; a questão do trabalhador informal, cada vez mais cerceado no seu direito à sobrevivência digna e excluído pelo poder público, no tocante à inclusão social; a questão da mulher, explorada no turismo sexual, e sofrendo todo o tipo de violência; a questão da criminalização dos pobres, negros, violentados pela polícia e crime organizado e, por fim, toda a política da Copa, sem participação da população, mercantilizando o futebol.

Portal A12 – Quais os alertas que o evento pretende destacar?
Roberval Freire – São muitas as violações dos direitos humanos relacionados direta ou indiretamente com a Copa, alguns já citados pelo manifesto do Comitê Popular da Copa/ São Paulo:

- os despejos de milhares de pessoas de suas casas sem alternativa de moradia digna, para dar lugar a obras viárias que nem sequer foram discutidas com a população;

- políticas que aprofundam a chamada “higienização”, com perseguição aos moradores de rua, catadores de papel, camelões. Lembramos que, pela lei da FIFA, em torno de cada estádio haverá uma área de segurança abrangendo um raio de dois quilômetros, de exclusão;

- o mercado imobiliário e a especulação financeira, se beneficia deste megaevento e atua no sentido de expulsar o pobre das áreas em valorização;

- o povo segue sendo massacrado pelo péssimo e caro transporte coletivo que tem piorado;

- nos estádios, torcedores são criminalizados, os ingressos são caros e elitizam o acesso ao espetáculo;

- para que tudo isso aconteça, a aplicação de mais de 30 bilhões de reais – dinheiro público – em obras para um evento que será acessível a poucos e que tanta falta faz na saúde, educação, moradia, transporte e no próprio esporte...Ou seja, foi mentira a afirmação anterior segundo a qual a iniciativa privada entraria de igual para igual com o poder público. Hoje, mais de 95% dos recursos para a Copa estão vindo do dinheiro público;

- com o evento, cresce a exploração sexual de mulheres, crianças e adolescentes para o turismo sexual.

Um caso emblemático desta Copa está ligado à remoção das 400 famílias da favela Buraco Quente, às margens da Avenida Jornalista Roberto Marinho. Lá irá passar o metrô da Linha 17-Ouro do Metrô, obra do governo do Estado para a Copa de 2014. As pessoas que vivem há décadas no lugar, caso não possam responder às exigências jurídicas, aguardam em meio às demolições. 

Elisangela Cavalheiro
Redação Portal A12

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