A previdência
do Rio Grande do Norte tem um rombo mensal de R$ 130 milhões, segundo o
presidente do Instituto de Previdência do Estado (Ipern), Nereu Batista
Linhares. O número servidores inativos já corresponde a mais de 51% da folha.
De acordo com Linhares, além disso o Executivo arca com quase 50 mil
aposentadorias de outros Poderes e órgãos.
“São entre 45
e 50 mil aposentadorias que o Ipern está pagando e não recebeu um centavo de
custeio. E a própria Constituição Federal diz que a Previdência só pode
retribuir aquilo que houve contribuição. É o Princípio Contribuitivo”, afirma
Linhares.
Nereu
Linhares explica que os demais Poderes e órgãos, com o Tribunal de Justiça e a
Assembleia Legislativa, nunca repassaram o dinheiro para o pagamento das
aposentadorias de seus servidores.
O presidente
do Ipern defende que haja uma reforma que deve começar justamente por esse
ponto. “A reforma é urgente, mas não pode ser do jeito que o Governo Federal
está fazendo. Cada Poder e cada órgão precisa assumir a sua parte, a reforma
precisa começar daí”. No entanto, o presidente do Ipern diz que qualquer
tentativa de propositura estadual pode cair por terra após a definição da
matéria da previdência que está sendo discutida em âmbito nacional.
O déficit
atual de cerca de R$ 130 milhões mensais, na previdência do Estado, deve
crescer ainda mais nos próximos anos. Nereu Linhares conta que muitos
servidores estão dando entrada no processo, por temer o resultado das votações
da reforma da previdência do Governo Federal.
Um problema
grave, apontado por Linhares em entrevista ao G1 ainda em janeiro, é que cerca
de 60% a 70% dos servidores atuais do estado estão próximos ou já têm condições
de se aposentar.
Sistema
de previdência potiguar
Como em todo
o Brasil, a previdência estadual do Rio Grande do Norte funcionava em modelo de
repartição simples. Isso significa que os servidores da ativa, que estavam
contribuindo com a previdência, pagavam os salários daqueles que já estavam
aposentados.
Porém, a
partir de 2003, foi criado um fundo previdenciário para os novos servidores, em
um modelo de capitalização. As contribuições dos servidores da ativa que
entraram a partir daquele ano foram colocadas em aplicações financeiras para
pagar a aposentadoria deles mesmos no futuro e o governo passou a arcar com o
déficit do sistema anterior. O objetivo era acabar, em longo prazo, com o
déficit previdenciário, previsto com a redução do número de servidores no
estado e a aposentadoria dos antigos.
Entretanto,
no final do mandato da governadora Rosalba Ciarlini (então no DEM), a
Assembleia Legislativa do RN aprovou uma lei que unificava o fundo antigo
(deficitário) com o novo fundo previdenciário (superavitário, com cerca de R$
973 milhões). No mesmo dia em que a lei foi aprovada, os saques começaram.
Somente em dezembro daquele, foram sacados R$ 234.157.275,33.
Já em 2015,
no primeiro ano de gestão de Robinson Faria (PSD), a equipe econômica sacou
mais R$ 589.157.572,32 para pagar aposentados e pensionistas, deixando a folha
salarial em dia. Os saques seguiram até o esvaziamento do valor.
Em dezembro
de 2016, a Assembleia aprovou uma lei que autorizou novos saques e estabeleceu
um prazo até 2040, para que o valor fosse devolvido por meio de transferência
de bens imóveis de propriedade do Estado. Para Nereu Linhares, entretanto, a
conta não pode ser paga justamente porque a lei não estabelece como isso seria
feito, nem leva em conta a capitalização desse valor.
O diretor do
Ipern considera que as medidas acabaram com a iniciativa de 2003 e os
servidores que entraram naquela época já estão contribuindo para o mesmo
sistema deficitário que os anteriores. Uma solução de longo prazo seria a
criação de um novo fundo, para os servidores que entrarem a partir de sua
criação. Mas isso não resolveria o déficit atual. Seria uma medida para evitar
o mesmo problema nas próximas décadas. “Se não fosse a má gestão, não teria
quebrado”, critica.
GLOBO RN
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