O presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisou ontem ao ministro da Economia, Paulo
Guedes, que deixará a articulação política pela reforma da Previdência. Maia
tomou a decisão após ler mais um post do vereador Carlos
Bolsonaro (PSC-RJ), com fortes críticas a ele. Irritado, o deputado
telefonou para Guedes e disse que, se é para ser atacado nas redes sociais por
filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda.
A ligação do
presidente da Câmara para o titular da Economia foi presenciada por líderes de partidos do Centrão. Maia está
irritado com a ofensiva contra ele nas redes, com a falta de articulação do
Palácio do Planalto e com a tentativa do ministro da Justiça, Sergio
Moro, de ganhar mais protagonismo na tramitação do pacote
anticrime. “Eu estou aqui para ajudar, mas o governo não quer ajuda”, disse o
presidente da Câmara, segundo deputados que estavam ao seu lado no momento do
telefonema. “Eu sou a boa política, e não a velha política. Mas se acham que
sou a velha, estou fora.”
Carlos
Bolsonaro, o filho “zero dois” do presidente, compartilhou ontem nas redes a
resposta de Moro à decisão de Maia de não dar prioridade agora ao projeto que
prevê medidas para combater o crime organizado e a corrupção. “Há algo bem
errado que não está certo!”, escreveu Carlos no Twitter. O texto acompanhava nota de Moro, divulgada na
noite de quarta-feira, rebatendo ataques de Maia à sua insistência em apressar
a tramitação do pacote. “Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser
adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”, afirmou Moro.
Além disso, no Instagram, Carlos lançou uma dúvida: “Por que o presidente da Câmara está tão nervoso?”.
Ao ler essas
mensagens, Maia não se conteve, pois, dias antes, já havia sido chamado de
“achacador”. A interlocutores, o deputado disse que não era possível ajudar a
obter votos favoráveis ao governo nem mesmo construir a base aliada de
Bolsonaro na Câmara sendo atacado desse jeito. Além disso, deputados e
senadores do PSL – partido de Bolsonaro – comemoraram ontem a prisão do
ex-presidente Michel Temer, que é do MDB, e houve quem associasse o presidente
do PSDB, Geraldo Alckmin, ao Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo. Em
conversas reservadas ao longo do dia, Maia disse não entender esses movimentos,
que só afastam possíveis aliados do MDB e do PSDB.
Muitos ‘bombeiros’ entraram em
ação
Guedes procurou
acalmar Maia. O presidente da Câmara tem fama de “temperamental” e há até mesmo
entre seus amigos quem o esteja aconselhando a recuar da decisão de deixar a
articulação pela reforma, da qual é o fiador na Câmara. Na prática, muitos
bombeiros entraram em ação para apagar o novo incêndio político.
Bolsonaro foi, mais uma vez,
aconselhado a conter seu filho para evitar
uma crise em um momento no qual o governo precisa de votos para aprovar as
mudanças nas regras da aposentadoria, consideradas fundamentais para o ajuste
das contas públicas. No sábado, em um churrasco na casa de Maia, um
interlocutor também já havia dito a Bolsonaro que ou ele dava “um basta” na
guerra promovida nas redes sociais ou a situação ficaria complicada para o
governo. O recado ali, como mostrou o Estado, foi o de que
até mesmo ele poderia ser considerado avalista das agressões virtuais.
Bolsonaro respondeu que não tinha como controlar seus milhões de seguidores.
Nos bastidores,
o presidente da Câmara avalia que é o próprio Bolsonaro quem alimenta essas
manifestações. Para Maia, ao não condenar a ofensiva de ódio na internet,
Bolsonaro está desprezando o seu trabalho de articulador político para angariar
votos favoráveis à reforma.
ESTADÃO CONTEÚDO
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