“Era uma solução
que colocaria os interesses nacionais acima de quaisquer sentimentos pessoais
ou partidários. Sua Excelência disse que precisava pensar e prometeu-me uma
decisão, que ontem me foi transmitida de modo negativo”, contou o vice, na
véspera do suicídio.
Impacto deixou oposição assustada
Diante dos ataques incessantes, os senadores governistas se
apequenaram. Eles simplesmente não conseguiam responder à altura. Gomes de
Oliveira (PTB-SC) tentou argumentar que a morte do major havia sido um
“incidente pessoal”, e não uma agressão aos militares, e que as eleições
estavam próximas:
“Achamo-nos às vésperas de uma eleição, que no próximo ano
renovará o Poder Executivo, e não temos paciência de esperar. Em vez disso,
queremos logo que as Forças Armadas, chamadas a resolver o incidente, levem o
país à desordem e às armas.
Na manhã do dia 24, a notícia do suicídio se espalhou pelo
país. Os brasileiros se inteiraram pelo rádio, atônitos. O senador governista
Dario Cardoso (PSD-GO) afirmou: “Indescritíveis são o meu pesar e a minha
perturbação ante o ocorrido, em cuja realidade ainda custo a crer. Getúlio
Vargas foi indiscutivelmente um dos mais eminentes homens públicos do Brasil e
das Américas.
O senador Alencastro Guimarães (PTB-DF) disparou contra os inimigos de Getúlio: “A campanha destes últimos meses contra a pessoa do senhor Getúlio Vargas excedeu todos os limites que neste país alguma vez se permitiram. Morre o senhor Getúlio Vargas. Não morre pela própria mão, mas assassinado pela covardia daqueles que não puderam vencê-lo no coração do povo brasileiro.
Assustados, os adversários adotaram um tom mais diplomático. Entre eles, o senador Ferreira de Sousa (UDN-RN), que se disse consternado: “O momento é de reverência diante da eternidade, de silêncio à borda do túmulo. Não vale fazer discussões em torno de pessoas, de fatos. Por um instante, cessam as divergências, calam-se os argumentos, suspendem-se os dissídios e não se pronuncia palavra de crítica.”
O corpo foi velado no Catete. Milhares de pessoas fizeram fila para se despedir do presidente. Depois, num emocionado cortejo, acompanharam o caixão até o Aeroporto Santos Dumont. Getúlio foi enterrado em São Borja (RS), sua cidade natal. Café Filho afastou-se do Senado e assumiu a Presidência. “O julgamento de Getúlio Vargas pertence à história, que saberá fazer justiça”, disse, dias depois, o senador Attilio Vivacqua (PR-ES).
Agência Senado