A presidente Dilma Rousseff e o vice, Michel Temer, vão se reunir, na
tarde de quarta-feira (9), dois dias após a divulgação da carta com
queixas do vice-presidente sobre a relação desgastada entre os dois. O
encontro foi acertado pelo ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, com
Rodrigo Rocha Loures, um dos principais assessores de Temer. A reunião
acontecerá após a volta de Dilma de um evento em Roraima.
O pedido para um encontro entre os dois partiu da presidente.
Dilma solicitou ao ministro da Casa Civil que sondasse Temer sobre a
possibilidade de um encontro entre os dois. Wagner telefonou a um
integrante da equipe do vice, que concordou com o encontro,
Segundo interlocutores do vice-presidente, Temer sinalizou ter
disposição de conversar e que a carta, considerada pelo vice um
documento pessoal e não político, tinha como objetivo servir de base
para um encontro franco entre os dois.
Divulgada na noite de segunda-feira, a carta de Temer expões suas
posições sobre o atual momento político. No texto, o vice-presidente
reclama de episódios de desconfiança de Dilma: “Sei que a senhora não
tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã", escreveu
Temer.
Leia abaixo a íntegra da carta:
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário
destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no
Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a
necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco
anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição
Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição
conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da
senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança
incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário
ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela
aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à
reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o
prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que
granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera
desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice
decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que
tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era
chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações
econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários,
subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o
Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho
elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação
minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no
dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o
Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o
governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com
perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC.
Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz
parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a
coordenação política, no momento em que o governo estava muito
desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste
fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos
empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país.
Quando se aprovou o
ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos
assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60
reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a
nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu
ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem
nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois
ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a
menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo,
deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a
oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a
primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito)
votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por
apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso
sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que
deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de
duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa
amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o
que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados
Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da
"espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a
senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice
Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta
de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades
do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o
teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela
sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a
economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua
divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que,
como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo
de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá
tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB,
hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
Com agências
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