Dois encontros com o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto
Costa, e o apoio a continuidade deste na estatal foi o que motivou a citação do
ex-presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, do PMDB, em
depoimento prestado pelo delator durante a investigação do “Petrolão”. Foi isso
que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relatou no pedido de
arquivamento da investigação contra Henrique, aprovado na semana passada pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki.
E por que houve o pedido de arquivamento mesmo tendo havido
tais encontros e a formalização do apoio? Porque, no entendimento do procurador,
não há como se imputar qualquer conduta que não tenha sido, meramente, política
ou circunstancial de Henrique com relação ao envolvimento com os denunciados do
Petrolão. Pelo menos, até o momento, não.
“Como se vê, na primeira narrativa (Paulo Roberto) trouxe
conhecimento sobre dois encontros com o parlamentar em que, do que se extrai,
estava no exercício das suas funções políticas, sem que dali se possa extrair
nenhuma conduta supostamente ilícita. Na segunda, cita unicamente que o
parlamentar estaria numa reunião (precedida e sucedida de muitos outros eventos
dos quais não participa casa do senador Renan Calheiros) onde teria havido uma
consolidação do apoio político ao nome de Paulo Roberto Costa para continuar em
seu cargo junto à Petrobras. Igualmente aqui não há, minimamente (e de forma
diversa do que se tem em relação aos parlamentares Renan Calheiros e Romero
Jucá), dados acerca de conduta que possa ser tida como suspeita ou indiciária
de crime de parte Henrique”, relatou Rodrigo Janot.
Esse primeiro encontro entre Henrique e Paulo Roberto Costa,
conforme o ex-diretor afirmou, teria ocorrido entre 2010 e 2011, quando
Henrique foi até a sede própria da Petrobras no Rio de Janeiro, para tratar da
construção de uma unidade de calcificação de coque verde de petróleo em São
Bernardo do Campo, São Paulo. O outro encontro foi para cobrar o andamento da
ação, mas como a Petrobras sinalizou que não havia interesse nisso, Henrique
não teria o procurado.
“Posteriormente, em 11.2.2015, em depoimento complementar,
Paulo Roberto Costa relatou que houve proposta de ajuda de parlamentares do
Senado do PMDB para mantê-lo no cargo. O assunto teria sido tratado com o
deputado Aníbal Gomes, que seria um ’emissário’ do senador Renan Calheiros. O
tema foi tratado ulteriormente com Renan Calheiros e Romero Jucá. Referiu,
então, que houve uma reunião na casa de Renan Calheiros no Lago Sul em
Brasília, momento em que estaria presente o deputado Henrique”, narrou Rodrigo
Janot no pedido de arquivamento.
“No caso em comento, sem que se tire a credibilidade de todo
o mais que foi dito – com elementos mais seguros – pelo colaborador em relação
aos demais pontos (daí a necessidade de análise individualizada de cada um dos
fatos e dos supostos envolvidos), fato é que, no entender do Procurador-Geral
da República, não há como, neste momento, em face do que se tem notícia nos
autos de forma concreta, dar andamento a uma investigação formal em detrimento
de Henrique Eduardo Alves”, explicou Janot.
Além da fato de relevância dos depoimentos, há também de se
ressaltar que não houve outros aspectos, como a falta de objetividade. “É
preciso acentuar que, em nenhum momento, o colaborador trouxe dados minimamente
objetivos no que se refere à eventual participação nos fatos referidos pelo
deputado Henrique”, acrescentou.
CONCLUSÕES PREFACIAIS
Antes de concluir o pedido de arquivamento, Rodrigo Janot
afirmou que o posicionamento atual não descarta que, no futuro, Henrique possa
voltar a ser investigado. “Frise-se, não se está fazendo nenhum juízo prévio e
insuperável acerca da procedência ou não de eventual participação de Henrique
nos fatos em averiguação no âmbito de toda a investigação em tela. O que se
impõe assentar é que, diante do que há de concreto nos autos até o presente
momento, não haveria sustentação mínima para requerimento de formal de
investigação”, acrescentou o parlamentar.
“É importante frisar que tais conclusões prefaciais não
inviabilizam que, acaso surjam ulteriormente dados minimamente objetivos que
permitam uma apuração, se retome o procedimento próprio para tal fim.
Inclusive, na petição de cisão processual já se adiantou que se estaria
deixando ’expresso que tal conclusão momentânea e inicial não implicará jamais
em não adoção de providências para a apuração de condutas de quaisquer
eventuais envolvidos’”, afirmou Rodrigo Janot, acrescentando que “não há, no
presente momento, viabilidades fática e jurídica para que se dê andamento a uma
investigação formal em razão do que se tem notícia até aqui em detrimento de
Henrique”.
ENVOLVIMENTO
É importante lembrar que a citação envolvendo Henrique
Eduardo Alves ocorreu ainda durante a campanha eleitoral de 2014, quando o
parlamentar disputava o Governo do Estado contra Robinson Faria (PSD). O depoimento
de Paulo Roberto Costa, que não teve seu conteúdo vazado, foram revelados
apenas os nomes citados, foi decisivo, na visão de alguns, para Robinson
ultrapassar Henrique e conquistar a chefia do Executivo.
Ex-presidente da Câmara dos
Deputados foi dono de apartamento pertencente a Nestor Cerveró
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN) foi proprietário do apartamento que o ex-diretor de
Internacional da Petrobras Nestor Cerveró transferiu para a filha, em junho de
2014, dias antes de ter seus bens bloqueados por causa dos prejuízos causados
na compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
O ex-deputado, que teve o nome citado pelo ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos parlamentares do PMDB que recebia
propina no contratos da estatal, foi procurado pelo Estadão e negou em uma
primeira conversa por telefone que fosse dono do apartamento. “Nunca tive
apartamento na Prudente de Moraes.” Depois que recebeu cópia do documento sobre
o negócio, enviada pela reportagem, lembrou.
Na ocasião, Cerveró afirmou que o apartamento 802, do
edifício de número 1.256, na Rua Prudente de Moraes, era herança de família e
que estava adiantando a transferência para sua filha Raquel. Preso desde o dia
14 de janeiro acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras, o
ex-diretor é investigado por ocultação de patrimônio e enriquecimento ilícito
na transação desse e outros quatro imóveis, em Ipanema, um deles no mesmo
prédio, um andar abaixo.
Registro de cartório de imóveis do Rio obtido pelos
investigadores da Operação Lava Jato mostra que Henrique Eduardo Lyra Alves
fechou contrato de promessa de conpra e venda do imóvel em 1974, mas registrou
a compra efetivamente em 21 de julho de 1981.
Menos de um mês depois, em 11 de agosto, foi registrada
escritura de compra e venda do apartamento para o comerciante Nestor Cuñat
Sancho, pai do ex-diretor da área Internacional – que seria o braço do PMDB no
esquema de corrupção na Petrobras, que arrecadava de 1% a 3% de propina em
contratos da estatal.
Em 2005, o registro cartorial aponta que o bem foi doado à
filha Raquel. No mesmo ano, Cerveró integralizou ao patrimônio familiar outro
apartamento no mesmo prédio, mas um andar abaixo: o de número 702. O comprador,
no caso, foi a mulher do ex-diretor, Patricia Anne Cerveró. O apartamento 702
foi doado, também em junho do ano passado, mas para o filho Bernardo. Ambos os
imóveis são declarados com valor de R$ 200 mil. Naquele ano, o investigado
assumiu a diretoria de Internacional da Petrobras, por indicação do PMDB.
Para a Lava Jato, além da compra ser suspeita, o valor
declarado e mudança de propriedade apontam tentativa de ocultação patrimonial e
lavagem de dinheiro.
O ex-deputado Henrique Alves afirmou não conhecer Cerveró.
“Nunca o vi na minha vida.” Na primeira vez que falou com a reportagem, disse
que não tinha apartamento na Prudente de Moraes, no Rio. Depois que recebeu
cópia do documento do cartório, anexado pela Lava Jato nos autos de investigação,
afirmou que comprou o apartamento na planta e que como fazia muito tempo não se
lembrava.
À reportagem, Henrique Alves disse que vendeu o imóvel pela
imobiliária e não sabe quem comprou. “Comprei para investimento” contou. “Nunca
morei lá, vendi quando ainda estava em construção”.
*Jornal de Hoje