Em uma afirmação
que foge de todas as outras que se ouve hoje em dia, o clínico geral autor
de vários livros sobre enxaqueca, Alexandre Feldman, defende que o pão
integral industrializado pode ser pior do que o pão branco. A razão principal,
explica o médico, seria a presença dos chamados antinutrientes, que impedem a
absorção dos nutrientes pelo corpo.
Erra quem pensa que
esses antinutrientes vêm dos possíveis aditivos químicos presentes nos pães
integrais industrializados. O problema está mesmo no próprio grão integral,
como explica Feldman: “Antinutrientes são substâncias naturais presentes dentro
das sementes, que impedem a germinação delas”.
No pão integral
industrializado, segundo Feldman, esses antinutrientes não são neutralizados –
processo que ocorre apenas na produção caseira – prejudicando a
absorção das vitaminas, de minerais e proteínas pelo corpo.
Além disso, ele
explica que dependendo do tipo de fibras, elas podem “arranhar” o intestino,
deixando-o mais permeável, induzindo a absorção de moléculas maiores que o
normal, que uma vez dentro da circulação sanguínea são reconhecidas
como corpos estranhos, e gerando produção de anticorpos e um estado
inflamatório no corpo.
Esse estado
inflamatório debilita a saúde. Para minimizar o problema e
neutralizar os antinutrientes, seria preciso deixar a fibra mais mole. No caso
de grãos como o feijão, por exemplo, deixar de molho em água e soro
de iogurte por 24 horas faz com que essas fibras se tornem mais palpáveis
ao organismo.
O pão branco, ao
contrário do integral, não possui fibras, mas apenas a parte refinada da
farinha, que se transforma rapidamente em açúcar no sangue. “Se comer com um
pouco de gordura, como a manteiga, o açúcar é absorvido mais devagar”,
explica ele. Além disso, os nutrientes presentes em outros alimentos
consumidos ao mesmo tempo, poderiam ser absorvidos sem o “sequestro” provocado
pelos antinutrientes.
Índice glicêmico
O índice glicêmico
dos alimentos é uma das razões que fazem uma pessoa em busca de boa alimentação
procurar o pão integral em vez do branco. Segundo Feldman, baseado em uma
tabela de índice glicêmico do departamento de saúde da Universidade de Harvard,
o pão integral industrializado tem o mesmo índice glicêmico do pão branco, se
transformando em açúcar com a mesma rapidez do que o de farinha refinada.
Feldman explica,
porém, que considera o pão, seja ele branco ou integral, um alimento
problemático. “Não há dúvidas que, se a gente puder comer menos, seria ótimo”,
explica ele.
Mas o
médico aponta uma alternativa: fazer pão integral em casa, neutralizando
os antinutrientes. “É o pão verdadeiramente de longa fermentação natural”,
conta Feldman.
Esse pão, no entanto,
leva cerca de dois dias para ficar pronto, pois precisa ser trabalhado com
calma. Não é permitido usar fermento biológico industrializado, mas sim
fermentação natural. “Não precisa de fermento [industrializado]. Se o usar já
começou errado. O fermento faz com que o pão cresça muito depressa. Tem
que criar o fermento em casa”, explica ele.
O melhor grão para
esse tipo de pão, explica, é o centeio. “Usar bastante centeio e só um pouco de
trigo é melhor. O centeio é que vai fermentar bem o trigo”, conta.
O resultado? Um pão
com um gosto levemente azedo. Esse sabor é uma das dicas de Feldman para
identificar se o pão realmente foi feito com fermentação natural.
Fibras
Mas nem todos
acreditam que o pão branco supera o integral industrializado. A nutricionista
da plataforma de cursos eduK, Silvana Costa, explica que o pão integral, apesar
de realmente ter as mesmas calorias que o branco, contém fibras que dão mais
saciedade. “A fibra, ao encontrar com o suco gástrico, infla e dá mais
saciedade”, explica ela.
Mesmo admitindo que
o pão caseiro é bem melhor, Silvana explica que a produção de um pão 100%
integral não é comercialmente viável porque a farinha integral é úmida.
“O centeio e os
outros integrais absorvem o líquido com muita facilidade, então o crescimento
dessas massas não é satisfatório. Por isso, a maioria das empresas mantêm ¾ de
farinha branca”, explica ela. De acordo com ela, isso está dentro da legislação
brasileira.
“A legislação pede
que todo e qualquer produto com indicação especial ou light tenha 25% menos
calorias ou de produtos alternativos. Se tiver 25% de farinha integral, já é
considerado especial”, comenta.
Fonte: IG