A necessidade de rever os padrões de consumo da água é um alerta
antigo, mas que ganhou um caráter real com a atual crise de
abastecimento em alguns estados do país.
Em 1993, quando a
Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o 22 de março como o Dia
Mundial da Água, já se apontavam os desafios relacionados à proteção
desse bem finito e essencial à vida humana.
A Agência Brasil
conversou com especialistas para discutir as falhas cometidas na gestão
dos recursos hídricos que levaram à pior situação de escassez dos
últimos 84 anos no Sudeste brasileiro. Eles falam também sobre
alternativas para garantir a sustentabilidade dos recursos existentes.
A coordenadora da articulação Aliança pelas Águas, Marussia Whately,
acredita que a crise pode ser um marco para construção de uma nova
cultura de cuidado com a água.
“A estiagem não é a razão da
crise, mas acaba sendo o estopim dela. A diminuição do nível das
represas trouxe à tona uma série de descuidos históricos com os recursos
hídricos, que resultaram na baixa resistência das áreas que produzem
água para as grandes cidades, como é o caso do Cantareira”, declarou.
Como
exemplo dessa ausência de proteção dos mananciais, ela cita a Represa
Billings. “Não pode ser usada [como alternativa para abastecimento]
porque está extremamente poluída e não houve qualquer prioridade para
cuidar dela”, apontou.
Além da falta de atenção com as represas, ela cita a inexistência de
diálogo com a sociedade como um dos fatores que explicam o agravamento
da crise no ano passado. “As medidas adotadas para a gestão da crise
foram decididas internamente pelo governo estadual com quase nenhuma
discussão com a sociedade, por exemplo, o uso do volume morto”, apontou.
O desmatamento no entorno dos mananciais que compromete a
capacidade desses territórios de terem um ciclo vigoroso de produção de
água também é um fator citado pela coordenadora. Por último, ela destaca
como marco para o agravamento da crise o período eleitoral em que pouca
coisa foi feita para gestão da crise e medidas como a regulamentação de
reúso da água e ampliação do uso de cisternas para as chuvas de verão
não avançaram.
“Isso fez com que medidas impopulares, como multa e
racionamento, não fossem adotadas e fez com que não houvesse o
compartilhamento de informações em um espectro mais amplo”, avaliou.
O governo estadual aguarda o fim do período de chuvas, em abril, para
avaliar se o racionamento será necessário na Grande São Paulo. Apesar
da melhora do índice pluviométrico em fevereiro, com precipitações 61%
acima da média, a situação ainda é crítica.
Agência Brasil