O envenenamento
por álcool ocorre quando a quantidade ingerida é superior à capacidade de o
organismo metabolizar a bebida. Em um homem com 70 quilos e 1,75 metro de
altura, por exemplo, uma dose de álcool (um cálice de vinho ou uma dose de
vodca ou uma lata de cerveja) é metabolizada em cerca de uma hora. Em um vídeo
com imagens da festa da Unesp, uma pessoa diz que os participantes da
competição tomavam uma dose de vodca por minuto. Humberto Moura Fonseca, assim,
teria ingerido cerca de 1 litro e meio da bebida em 30 minutos.
O álcool
inicialmente age no sistema dopaminérgico do cérebro, causando euforia e
desinibição. Com a ingestão de mais doses, a bebida passa a comprometer o
chamado sistema gabaérgico, responsável por funções vitais do corpo: controle
da temperatura, respiração e batimentos cardíacos.
Intoxicação
No início da
intoxicação, os sintomas são tontura, dificuldade de ficar acordado, fala
enrolada e confusão mental, que começam a se manifestar em média 20 minutos
após a ingestão de álcool. A esses sinais de embriaguez, seguem-se sintomas de
maior gravidade: pulso fraco e rápido, pele fria e pálida, cheiro forte de
álcool saindo da pele, respiração irregular, vômito, desmaio e coma.
No caso de
Fonseca, é possível que, quando os sintomas começaram a aparecer, ele já
tivesse ingerido quantidade suficiente para colocá-lo em coma. Ele foi levado
para o hospital, mas chegou sem vida.
“Em altas doses,
o álcool intoxica o organismo a ponto de deixar as reações tão lentas que a
pessoa para de respirar”, afirma Zila van der Meer Sanchez, coordenadora do
projeto Balada com Ciência da Unifesp e pesquisadora do Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
Casos de morte
por overdose de álcool não são comuns e a resistência à bebida varia de acordo
com o organismo de cada um. Zila afirma que em um consumidor crônico – um alcoólatra
ou alguém que esteja acostumado a beber bastante – a quantidade que matou o
estudante não teria os mesmos efeitos. Outros fatores que interferem na
capacidade de uma pessoa de metabolizar a bebida são genética, gênero, gordura
corporal, peso, idade, alimentação e uso de medicamentos.
O fato de não
haver uma ambulância com equipamentos e socorristas especializados no local da
festa também foi um agravante. Segundo a médica, caso a ambulância tivesse
equipamento para oxigenação e reanimação e um profissional treinado para lidar
com casos de intoxicação alcoólica, Fonseca teria tido mais chances de chegar
ao hospital com vida e lá receber tratamento adequado.
Álcool no
Brasil
Os alunos da
Unesp praticaram o que os especialistas chamam de beber em binge.
Trata-se de, no período de duas horas, consumir pelo menos cinco doses de
bebida alcoólica, no caso dos homens, ou quatro doses, no caso das mulheres. Um
levantamento divulgado por pesquisadores da Unifesp em 2014 revelou que o binge é
comum em 43% dos adolescentes brasileiros de até 17 anos, 55% dos jovens com
até 21 anos e 61% daqueles com até 25 anos de idade. Além disso, o estudo
mostrou que os brasileiros estão bebendo mais cedo e em maior volume. A idade
média do começo da inserção da bebida na vida dos entrevistados foi de 15 anos.
Um estudo
realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que o consumo de
álcool no Brasil supera a média mundial. De acordo com dados da organização, a
ingestão média no planeta entre pessoas acima de 15 anos em 2010 era de 6,2
litros por ano por indivíduo. Já no Brasil, uma pessoa dessa faixa etária
ingere, em média, 8,7 litros de álcool por ano.
Fonte: VEJA