Não é apenas nas contas públicas que o governo vem tropeçando. Além de apresentar desempenhos fiscais cada vez piores, enquanto a economia desacelera e a inflação beira o teto da meta, de 6,5% ao ano, a gestão de Dilma Rousseff passou a colecionar resultados negativos em diversos indicadores importantes da economia. Um dos que mais chamam a atenção é o deficit em conta-corrente — saldo das trocas de mercadorias, serviços e rendas com outros países —, que mede, grosso modo, a capacidade de uma nação de honrar os compromissos com o resto do mundo. Dados do Banco Central revelam que, em três anos, o rombo nas transações correntes do governo Dilma soma US$ 188 bilhões. O valor já supera os US$ 186 bilhões registrados nos oito anos da administração de Fernando Henrique Cardoso e dos US$ 98,2 bilhões do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Normalmente, os saldos negativos dessa conta são compensados pela entrada de capitais estrangeiros no país, seja os destinados a investimentos produtivos, seja aqueles que vêm para lucrar com as exorbitantes taxas de juros locais. No ano passado, no entanto, esses recursos não foram suficientes para cobrir o rombo nas transações de bens, serviços e rendas com o exterior, que rompeu a casa dos US$ 80 bilhões. E, pela primeira vez desde 2000, o balanço de pagamentos — resultado final da contabilidade do país no confronto com o resto do mundo — ficou negativo em quase US$ 6 bilhões. Esse resíduo acabou sendo coberto por saques nas reservas internacionais do país, lembram os especialistas.
Mesmo não sendo considerada crítica, a situação é preocupante, na avaliação dos analistas, e deixa uma herança pesada para o próximo governante — seja quem for o vencedor das próximas eleições. Se o país continuar no vermelho e houver um choque cambial, as reservas seriam queimadas com mais facilidade do que se espera, prejudicando a condição de solvência do país. “Uma das consequências futuras desses contínuos deficits para o brasileiro serão novas pressões inflacionárias. O Brasil já não tem uma inflação em patamar confortável. A tendência pode ser de piora contínua para o custo de vida”, explica o economista Hugo Paixão, analista da DXI Consultoria e Planejamento Financeiro.
Fonte: Correio Braziliense
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