Diante da ameaça real de sofrer
uma derrota na votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara, o governo atendeu a demandas de partidos de centro,
acenou com alterações no texto da proposta, e prometeu analisar as indicações a
cargos de segundo escalão.
Integrantes do chamado centrão e
até mesmo da legenda do presidente Jair Bolsonaro, o PSL, garantem que já foi
fechado um acordo sobre as mudanças no texto da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) da reforma da Previdência. Mas uma outra ala do governo
garante que o texto ainda está sob negociação.
“Na terça-feira, o relator Marcelo
Freitas (PSL-MG) irá apresentar já algumas alterações que vão coincidir com o
que os partidos de centro solicitaram, o que o presidente (da Câmara) Rodrigo
Maia e líderes de outros partidos haviam trazido, sem prejudicar a economia
pretendida pelo governo”, disse o líder do PSL na Casa, Delegado Waldir
(PSL-GO), à Reuters.
“Já está certo”, garantiu,
a crescentando que caberá ao relator da proposta trabalhar em cima do texto
neste feriado para apresentá-lo na próxima semana.
O líder do PP na Câmara, Arthur
Lira (AL), reafirmou nesta quinta-feira que o acordo está fechado, mas o
governo ficou de apresentar nos próximos dias o texto modificado.
Lira disse que entre os pontos a
serem mudados consta o fim da extinção da multa de 40 por cento do FGTS na
demissão sem justa causa de aposentados, e a retirada da exclusividade do Poder
Executivo para propor mudanças na reforma. Será mantida a regra atual para o
foro judicial competente para julgamento de ações previdenciárias.
Segundo o líder, outros dois
pontos —a mudança no abono salarial e a chamada desconstitucionalização de
alterações na Previdência, isto é, retirar da Constituição e deixar para tratar
isso por meio de leis complementares— ainda estão sob negociação.
“O acordo foi bom para todo mundo,
se estabeleceu alguns critérios, só tiramos matéria estranha na PEC. Não foi
possível tirar tudo”, disse Lira à Reuters.
“Eu, se fosse governo, faria o
acordo. Qualquer enfrentamento na Câmara não é bom para ninguém. O governo não
tem base e nenhuma das mudanças envolve questão financeira”, avaliou o líder do
PP.
O secretário de Previdência e
Trabalho, Rogério Marinho, no entanto, afirmou à Reuters por meio de mensagem
que a negociação sobre a PEC “vai dar certo”, mas “ainda não deu”.
Uma fonte governista também
garantiu que o clima é favorável a um acordo, mas que ele ainda não foi selado.
Na quarta-feira, após o adiamento
da votação da admissibilidade da reforma na CCJ —parlamentares do centrão
alertaram que o governo sofreria uma derrota caso o texto fosse a voto naquele
dia—, líderes reuniram-se com Marinho para negociar que pontos poderiam ser
mudados.
Na reunião, relata uma fonte, a
conversa sobre cargos teria surgido, como um recado do governo de que as coisas
iam começar a andar, que ia analisar indicações.
O ministro da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, negou nesta quinta-feira que o governo tenha prometido ministérios a
partidos que fechassem questão pela reforma da Previdência e, através de sua
assessoria, classificou as informações, que mexeram com o mercado de “fake
news”.
Uma outra fonte do governo
atribuiu as informações sobre cargos a integrantes do centrão, que teriam plantado
o tema numa tentativa de dar como certo o que desejam.
Marinho entrou na negociação a
pedido de Maia e intensificou seu papel de articulação após certa retração do
ministro da Economia, Paulo Guedes, que protagonizou momentos de tensão em
audiência na CCJ, avaliou uma fonte.
Maia, por sua vez, havia reduzido
seu papel nas negociações após a troca pública de farpas com Bolsonaro. Voltou
à articulação com tudo, no entanto, quando percebeu a possibilidade de derrota
ou de forte desidratação do texto. De quebra, aproveitou para uma demonstração
de força e ainda desautorizar acordo anterior do líder do governo na Câmara,
Major Vitor Hugo (PSL-GO).
Agencia Reuters
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