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sábado, 30 de maio de 2015

Dilma critica financiamento empresarial de campanhas

A presidente Dilma Rousseff afirmou, nesta sexta-feira, que é a contra as doações feitas por empresas a candidatos e partidos políticos. A posição, defendida por Dilma durante congresso do PCdoB em São Paulo nesta noite, contraria a reforma política que está sendo votada pelo Congresso Nacional. Sob o comando do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), os deputados aprovaram, na quarta-feira, o financiamento privado das campanhas. Num discurso de mais de uma hora, Dilma também defendeu o ajuste fiscal e afirmou que o governo atingiu o limite da capacidade de usar seus recursos para proteger a economia.

— Considero que temos que introduzir na Constituição o fim do financiamento empresarial de campanha. Temo que isso esteja sendo postergado — disse Dilma, numa crítica indireta a Cunha.

A proposta defendida por Cunha e aprovada pelos deputados prevê o oposto: inserir, na Constituição, a permissão de que empresas possam doar para partidos políticos. Ainda sobre a agenda do Congresso, Dilma se colocou contra a redução da maioridade penal:

— Fico preocupada com o avanço de algumas questões. Tem conquistas civilizatórias que não vamos poder voltar atrás. Me refiro à redução da maioridade penal. Nós temos posição clara de punir o adulto que recruta a criança para usá-la como uma espécie de escudo penal — afirmou, em referência ao projeto de lei de redução da idade penal de 18 para 16 anos aprovada recentemente pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

AJUSTE FISCAL

Falando para uma plateia formada por cerca de 500 militantes e dirigentes do PCdoB, Dilma falou sobre a crise econômica que o país atravessa e sobre medidas de ajuste nas contas públicas defendidas por seu governo:

— Chegamos ao limite da nossa capacidade de utilizar os recursos do governo federal para proteger nossa economia. Vamos ter que dar uma reequilibrada no fiscal, será uma mudança tática — afirmou a presidente, que prosseguiu:

— Um país não faz ajustes gastando mal nem sucateando seus programas sociais e de infraestrutura. É esse o desafio que o governo está apresentando e que exige rapidez.

A rapidez a que Dilma se refere é dos parlamentares para aprovar não apenas as medidas provisórias que alteram benefícios trabalhistas mas também o projeto de lei que reduz a desoneração da folha de R$ 25 bilhões para R$ 12 bilhões. O projeto deve entrar em votação no Congresso no próximo mês.

Bem humorada, a presidente chegou ao 10o Congresso Nacional do PCdoB em São Paulo sorridente, de casaco vermelho, e entoou com entusiasmo o canto de "Um, dois, três, quatro, cinco, mil, e viva o Partido Comunista do Brasil". O ato foi interpretado como um gesto de reaproximação com a base do governo. Dilma insuflou a militância comunista a apoiá-la, a despeito das medidas duras que tem tomado, em uma fala que pode ser considerada uma estocada nos próprios petistas, reticentes em apoiar o ajuste fiscal de Dilma:

— O PC do B sabe o significado da palavra prioridade quando precisamos unir forças em torno de questões nacionais. Tenho certeza de que posso continuar contando com vocês — afirmou Dilma. — Vamos enfrentar a adversidade da atual conjuntura sem permitir que as forças populares e progressistas que nos apoiam se dispersem.

A mensagem foi clara. Nas últimas duas semanas, o PCdoB agiu de modo infiel no Congresso. O partido votou contra o governo e a favor da flexibilização do fator previdenciário, que deve aumentar os gastos públicos com aposentadorias. A derrota da situação na Câmara foi considerada sobretudo fruto da traição dos comunistas. Os parlamentares do PCdoB também fecharam questão com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sobre diversos tópicos da reforma política, contrariando o PT.

- Apoiamos o distritão e em troca o Cunha ajudou a impedir a aprovação do fim das coligações proporcionais e fez passar uma cláusula de barreira light — afirmou um dos deputados da sigla, que não quis ser identificado.

De pequeno porte, o PCdoB estaria em risco caso fosse aprovada uma regra mais rígida de desempenho eleitoral. Ao mesmo tempo, a coligação em eleições proporcionais costuma favorecer partidos menores, que elegem seus candidatos beneficiando-se dos votos obtidos pelos partidos maiores da aliança.

PROGRAMAS MANTIDOS

Dilma reafirmou que programas como Bolsa-Família, Mais Médicos, FIES, Pronatec, Prouni, entre outros, não sofrerão reduções drásticas com o ajuste fiscal. Anunciou que, em agosto, o Minha Casa, Minha Vida 3 terá início e que deverá construir mais 3 milhões de casas populares.

— O Estado brasileiro tem que ser reformado, mas não é torná-lo mínimo, é torná-lo mais qualificado, com serviços públicos de qualidade — disse a presidente. — É mais fácil melhorar a renda, mas melhorar a estrutura educacional do país, o atendimento de saúde, isso é um processo.

Muito à vontade, Dilma disse ter o ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, como um grande conselheiro. Acusada de estar distante do PT, de Lula e da base, ela negou que sinta solidão no comando do país:

— Eu não me sinto sozinha, não. É interessante, sozinha a gente se sente numa cela. No Palácio do Planalto não me sinto sozinha, nem no Alvorada — disse, arrancando risos e aplausos dos militantes comunistas.

Fonte: O Globo

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