A presidente Dilma Rousseff afirmou, nesta sexta-feira, que é a contra
as doações feitas por empresas a candidatos e partidos políticos. A
posição, defendida por Dilma durante congresso do PCdoB em São Paulo
nesta noite, contraria a reforma política que está sendo votada pelo
Congresso Nacional. Sob o comando do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB), os deputados aprovaram, na quarta-feira, o financiamento
privado das campanhas. Num discurso de mais de uma hora, Dilma também
defendeu o ajuste fiscal e afirmou que o governo atingiu o limite da
capacidade de usar seus recursos para proteger a economia.
—
Considero que temos que introduzir na Constituição o fim do
financiamento empresarial de campanha. Temo que isso esteja sendo
postergado — disse Dilma, numa crítica indireta a Cunha.
A
proposta defendida por Cunha e aprovada pelos deputados prevê o oposto:
inserir, na Constituição, a permissão de que empresas possam doar para
partidos políticos. Ainda sobre a agenda do Congresso, Dilma se colocou
contra a redução da maioridade penal:
— Fico preocupada com o
avanço de algumas questões. Tem conquistas civilizatórias que não vamos
poder voltar atrás. Me refiro à redução da maioridade penal. Nós temos
posição clara de punir o adulto que recruta a criança para usá-la como
uma espécie de escudo penal — afirmou, em referência ao projeto de lei
de redução da idade penal de 18 para 16 anos aprovada recentemente pela
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
AJUSTE FISCAL
Falando
para uma plateia formada por cerca de 500 militantes e dirigentes do
PCdoB, Dilma falou sobre a crise econômica que o país atravessa e sobre
medidas de ajuste nas contas públicas defendidas por seu governo:
—
Chegamos ao limite da nossa capacidade de utilizar os recursos do
governo federal para proteger nossa economia. Vamos ter que dar uma
reequilibrada no fiscal, será uma mudança tática — afirmou a presidente,
que prosseguiu:
— Um país não faz ajustes gastando mal nem
sucateando seus programas sociais e de infraestrutura. É esse o desafio
que o governo está apresentando e que exige rapidez.
A rapidez a
que Dilma se refere é dos parlamentares para aprovar não apenas as
medidas provisórias que alteram benefícios trabalhistas mas também o
projeto de lei que reduz a desoneração da folha de R$ 25 bilhões para R$
12 bilhões. O projeto deve entrar em votação no Congresso no próximo
mês.
Bem humorada, a presidente chegou ao 10o Congresso Nacional
do PCdoB em São Paulo sorridente, de casaco vermelho, e entoou com
entusiasmo o canto de "Um, dois, três, quatro, cinco, mil, e viva o
Partido Comunista do Brasil". O ato foi interpretado como um gesto de
reaproximação com a base do governo. Dilma insuflou a militância
comunista a apoiá-la, a despeito das medidas duras que tem tomado, em
uma fala que pode ser considerada uma estocada nos próprios petistas,
reticentes em apoiar o ajuste fiscal de Dilma:
— O PC do B sabe o
significado da palavra prioridade quando precisamos unir forças em
torno de questões nacionais. Tenho certeza de que posso continuar
contando com vocês — afirmou Dilma. — Vamos enfrentar a adversidade da
atual conjuntura sem permitir que as forças populares e progressistas
que nos apoiam se dispersem.
A mensagem foi clara. Nas últimas
duas semanas, o PCdoB agiu de modo infiel no Congresso. O partido votou
contra o governo e a favor da flexibilização do fator previdenciário,
que deve aumentar os gastos públicos com aposentadorias. A derrota da
situação na Câmara foi considerada sobretudo fruto da traição dos
comunistas. Os parlamentares do PCdoB também fecharam questão com o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sobre diversos tópicos da reforma
política, contrariando o PT.
- Apoiamos o distritão e em troca o
Cunha ajudou a impedir a aprovação do fim das coligações proporcionais e
fez passar uma cláusula de barreira light — afirmou um dos deputados da
sigla, que não quis ser identificado.
De pequeno porte, o PCdoB
estaria em risco caso fosse aprovada uma regra mais rígida de desempenho
eleitoral. Ao mesmo tempo, a coligação em eleições proporcionais
costuma favorecer partidos menores, que elegem seus candidatos
beneficiando-se dos votos obtidos pelos partidos maiores da aliança.
PROGRAMAS MANTIDOS
Dilma
reafirmou que programas como Bolsa-Família, Mais Médicos, FIES,
Pronatec, Prouni, entre outros, não sofrerão reduções drásticas com o
ajuste fiscal. Anunciou que, em agosto, o Minha Casa, Minha Vida 3 terá
início e que deverá construir mais 3 milhões de casas populares.
—
O Estado brasileiro tem que ser reformado, mas não é torná-lo mínimo, é
torná-lo mais qualificado, com serviços públicos de qualidade — disse a
presidente. — É mais fácil melhorar a renda, mas melhorar a estrutura
educacional do país, o atendimento de saúde, isso é um processo.
Muito
à vontade, Dilma disse ter o ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo,
como um grande conselheiro. Acusada de estar distante do PT, de Lula e
da base, ela negou que sinta solidão no comando do país:
— Eu não
me sinto sozinha, não. É interessante, sozinha a gente se sente numa
cela. No Palácio do Planalto não me sinto sozinha, nem no Alvorada —
disse, arrancando risos e aplausos dos militantes comunistas.
Fonte: O Globo
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