O
ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu
negar nesta sexta-feira (1º) um pedido do deputado estadual e senador eleito Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) para suspender as investigações do Ministério Público do
Rio de Janeiro (MP-RJ) a partir de movimentações financeiras consideradas
"atípicas" pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O senador
eleito Flávio Bolsonaro disse, por meio de sua assessoria, que não vai se
pronunciar por ora, mas que deve se manifestar no Senado sobre a decisão na
tarde desta sexta-feira (1º). Flávio havia pedido a suspensão do procedimento
investigatório com o argumento de que uma vez eleito senador, a competência
para autorizar investigação seria do STF, por causa do foro privilegiado.
Em
entrevista ao blog há duas semanas, Marco
Aurélio já tinha sinalizado que rejeitaria o pedido da defesa do senador
eleito. "Tenho negado seguimento a reclamações assim, remetendo ao lixo”,
afirmou o ministro na ocasião.
Com a
decisão de Marco Aurélio, a investigação do MP-RJ pode ser retomada. O ministro
também determinou o fim do sigilo do caso.
Na decisão,
Marco Aurélio afirma que a competência da Corte "está delimitada, de forma
exaustiva, na Constituição Federal", e que cabe ao STF julgar deputados e
senadores por crimes cometidos no exercício do mandato.
"Reitero
o que sempre sustentei: a competência do Tribunal é de Direito estrito, está
delimitada, de forma exaustiva, na Constituição Federal. As regras respectivas
não podem merecer interpretação ampliativa. A Lei Maior, ao prever cumprir ao
Supremo julgar Deputados e Senadores, há de ter abrangência definida pela
conduta criminosa: no exercício do mandato e relacionada, de algum modo, a este
último", disse o ministro.
Marco
Aurélio disse, ainda, que a Corte não pode servir de "elevador
processual".
"A
situação jurídica não se enquadra na Constituição Federal em termos de
competência do Supremo. Frise-se que o fato de alcançar-se mandato diverso
daquele no curso do qual supostamente praticado delito não enseja o chamado
elevador processual, deslocando-se autos de inquérito, procedimento de
investigação penal ou processo-crime em tramitação", afirmou o ministro.
Investigação
Flávio
Bolsonaro e seu ex-motorista Fabrício
Queiroz são alvos de procedimento investigatório do Ministério Público do
Rio de Janeiro iniciado a partir de relatórios do Coaf. O conselho identificou
uma movimentação suspeita
de R$
1,2 milhão na conta de Queiroz e também na conta de Flávio Bolsonaro – em
um mês, foram 48
depósitos em dinheiro, no total de R$ 96 mil, de acordo com o Coaf.
Os
depósitos, concentrados no autoatendimento da agência bancária que fica dentro
da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foram feitos sempre no mesmo valor:
R$ 2 mil.
A
investigação faz parte da Operação
Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro que prendeu dez
deputados estaduais.
De acordo
com o Coaf, nove funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro transferiam
dinheiro para a conta de Fabrício Queiroz em datas que coincidem com as
datas de pagamento de salário.
O filho do
presidente Jair
Bolsonaro tem dito estar à disposição da Justiça para prestar
esclarecimentos, mas não
atendeu aos convites do Ministério Público para apresentar as explicações.
Recurso ao Supremo
Ainda
durante o recesso do Judiciário, o ministro Luiz Fux, do STF, mandou
suspender provisoriamente o procedimento investigatório do MP-RJ atendendo
a pedido de Flávio Bolsonaro, até que o relator do caso, ministro Marco Aurélio
pudesse decidir.
Na
reclamação ao STF, Flávio Bolsonaro argumentava que o Ministério Público
requereu ao Coaf informações sobre dados sigilosos de sua titularidade e que as
informações do procedimento investigatório foram obtidas de forma ilegal, sem
consultar a Justiça.
Segundo
Flávio, houve usurpação de competência da Corte para decidir sobre o
precedimento investigatório, uma vez que foi confirmada sua eleição como
senador e que só o Supremo poderia decidir neste caso.
Ele alegou,
ainda, que "o Ministério Público do Rio se utilizou do Coaf para criar
atalho e se furtar ao controle do Poder Judiciário, realizando verdadeira burla
às regras constitucionais de quebra de sigilo bancário e fiscal".
Flávio
Bolsonaro pediu a suspensão de todos os atos da investigação em curso até que
se decida a respeito da competência do Supremo para processar e julgar e ainda
o reconhecimento da ilegalidade das provas e de todas as diligências de
investigação determinadas a partir delas.
G1