O governo de São Paulo transfere na manhã desta quarta (13) o chefe
máximo do PCC, Marco Camacho, o Marcola, para um presídio federal. O destino
ainda não foi revelado, mas estipula-se que seja Brasília.
Além dele, estão sendo transferidos em forte esquema de segurança
outros 21 membros da facção, parte também integrante da cúpula. Em 2006, a
transferência de presos do PCC para o presídio de segurança máxima de
Presidente Venceslau (a 611 km de SP) provocou uma onda de violência que deixou
564 mortos, dos quais 505 eram civis [leia mais abaixo].
Os detentos estão neste momento no aeroporto da vizinha Presidente
Prudente para a transferência. Eles também serão transferidos para os presídios
federais de Porto Velho (RO) e Mossoró (RN).
Sete desses presos tiveram a transferência definida no ano passado por
causa de envolvimento em crimes investigados na operação Echelon, entre eles
ordem para ataques a agentes públicos e assassinatos de rivais.
Já Marcola está sendo transferido por conta da descoberta em 2018 de um
plano de fuga que utilizaria até um exército de mercenários para o resgate dele
e de parte da cúpula da facção. A Justiça de São Paulo ficou ainda mais
pressionada a determinar a transferência depois que, no final do ano, duas
mulheres foram presas com suposta carta com ordem do chefão do PCC para matar o
promotor Lincoln Gakiya, responsável pelo pedido de transferência, e que
investiga há anos o crime organizado.
Integrantes do Ministério Público disseram à Folha que aguardavam a
transferência de Marcola em breve, mas acreditavam que isso só deveria ocorrer
depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), deixasse o hospital
na capital paulista.
Em dezembro, cartas interceptadas na saída do presídio mostraram que
Marcola pedia a morte de um promotor caso fosse transferido.
A transferência de Marcola provocou um racha nos meses do governo Márcio
França (PSB) entre integrantes da cúpula que defendiam a transferência de
Marcola e outros que temiam represália por parte dos criminosos se essa transferência
fosse concretizada, a exemplo do que ocorreu em maio de 2006, quando forças de
segurança foram atacadas em represália à transferência de 765 presos para
Presidente Venceslau.
Mais de 300 ataques da facção a prédios públicos na época deixaram 59 agentes
de segurança mortos em cinco dias. O saldo de mortes aumentaria nos dez dias
que se seguiram, quando grupos de homens encapuzados saíram às ruas para vingar
as mortes de policiais. Foram 505 civis mortos.
O principal a defender a permanência de Marcola e outros integrantes do
PCC em São Paulo era o então secretário Mágino Alves Barbosa Filho, sob
argumento de ter informações seguras de que esses ataques ocorreriam. Já o
então secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, e membros do Ministério
Público, refutavam a descoberta de planos de ataques por parte dos criminosos e
defendiam a transferência imediata.
Ao mesmo tempo que ocorre a transferência, a Polícia Militar realiza em
todo o estado uma operação com 21.934 policiais, com 8.104 viaturas, 13
helicópteros em 3.362 pontos.
Segundo a Secretaria da Segurança, “as equipes
estão em locais estratégicos, apontados pelo serviço de inteligência da PM,
para sufocar possíveis ações de criminosos”.
Folha de São Paulo