A partir de 2017, segundo o especialista, o governo deve
começar a quitar dívidas com as transmissoras que, a rigor, tinha de ter
começado a pagar em 2013. Naquele ano, o governo decidiu cortar cerca de R$ 4,4
bilhões em receitas das transmissoras. A medida fazia parte das ações para
anunciar a prometida redução de 20% na conta de luz, o que de fato ocorreu. No
meio desse processo, o governo acabou usando o dinheiro dos fundos setoriais -
que pagariam esse valor - para outros fins. Como esse rombo não sumiu, agora
ele voltará para a conta de luz carregado de juros. Hoje, seu valor é estimado
entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões, por causa dos reajustes acumulados nos
últimos três anos.
"O que aconteceu é que, na verdade, retiraram essa
receita devida às transmissoras, para reduzir a tarifa de forma
artificial", disse Julião. "Essa é a arte da pedalada na conta de
luz. Ouvimos que tinham baixado a tarifa, quando na verdade só estavam fazendo
um deslocamento temporal do custo."
A decisão de fazer o repasse bilionário devido às
transmissoras de energia para a conta de luz do consumidor foi tomada no início
deste ano, depois que o Tesouro Nacional se recusou a pagar a conta, tendo em
vista o déficit acumulado nos últimos anos. A previsão é de que os juros da
dívida com as transmissoras sejam pagos em até oito anos. Já o valor original
da indenização pode ser pago até o fim da vida útil dos equipamentos.
Apesar de o setor elétrico ter retomado seu equilíbrio
estrutural de oferta de energia (reflexo da demanda menor, por causa da crise
econômica e da melhora nos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas),
financeiramente o setor ainda está longe de retomar sua normalidade. "A
judicialização do setor é resultado desse cenário conturbado e desequilibrado,
e não a causa dele", comenta o especialista.
Indenização
Os valores a que as transmissoras têm direito estão
relacionados a investimentos em melhoria e expansão de linhas e subestações
anteriores ao ano 2000 e que ainda não foram amortizados. Pela proposta
original, o governo não pretendia pagar indenização por essas obras e
equipamentos, mas mudou de ideia após uma forte pressão das transmissoras, que
sinalizaram que não iriam aderir à proposta de renovação dos contratos.
Quando concordou em pagar a conta às transmissoras, a União
garantiu a adesão dessas empresas ao pacote de renovação antecipada das
concessões e, a partir disso, anunciou a redução da conta de luz em 20%, ainda
em 2013. Essa situação foi sustentada até o fim do período eleitoral, em 2014.
Após as eleições, o governo admitiu que não tinha mais como
bancar as medidas com base em aportes do Tesouro Nacional. Hoje, as estimativas
indicam que ainda faltam cerca de R$ 24 bilhões para encerrar a encrenca
financeira das indenizações de transmissão.
Diário de Pernambuco