O processo sobre suposta participação da ex-prefeita Micarla
de Sousa em esquema fraudulento com verbas destinadas à Secretaria de
Saúde de Natal foi remetido à Justiça Federal. Ontem (11), o juiz José
Armando Ponte, da 7ª Vara Criminal, declarou incompetência para julgar o
caso por entender que o crime em questão tratava sobre desvio de
recursos federais.
No
início de novembro, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público
denunciou Micarla de Sousa por suposta participação no esquema que
fraudou as contas públicas através de contrato com a Associação Marca,
que era responsável pelo gerenciamento de unidades de saúde de Natal.
As
acusações foram feitas com base em dados bancários, fiscais,
telefônicos e telemáticos, mas o teor real da denúncia está em segredo
de justiça - e assim foi encaminhada à Justiça Federal.
Segundo
o juiz José Armando Ponte, "o enredo criminoso" relatado pelo MP
"gravita em derredor de um milionário desvio de recursos públicos
operado por meio de uma criminosa parceria envolvendo o Município de
Natal e a organização empresarial chefiada por Tufi Soares Meres, também
réu, que detinha o controle sobre a operacionalização do gerenciamento
hospitalar e a execução de ações e serviços de saúde nos Ambulatórios
Médicos Especializados (AMES)
Porém, apesar de
se tratar de gestão municipal, o juiz entendeu que o tema caberia à
análise da Justiça Federal porque os recursos geridos pelo Fundo
Municipal de Saúde de Natal eram obtidos mediante transferências do
Sistema Único de Saúde (SUS), gerido pela União.
O
magistrado justificou que ele mesmo, em decisão recente sobre caso
envolvendo parte dos réus que também estão na denúncia contra Micarla,
em ações de combate a dengue com uso de verbas federais, entendeu que a
lei estabelece competência da Justiça Federal para "processar e julgar
prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas
perante órgão federal".
Apesar de remeter o
processo à Justiça Federal, o magistrado entende que, "mesmo na hipótese
de incompetência absoluta, hei por bem preservar e resguardar a
eficácia jurídica de todos os atos instrutórios e decisórios proferidos
nos autos desta ação penal e de todos os processos", até que o a Justiça
Federal aprecie as decisões, "anulando-as, modificando-as ou
ratificando-as na íntegra, consoante seu exclusivo entendimento".
Memória
A
trajetória política da jornalista Micarla de Sousa foi frustrada
próximo ao fim de seu mandato na prefeitura de Natal em 2012, com
críticas e índices de desaprovação, que ultrapassaram os 90%, e
culminaram numa ocupação à Câmara Municipal de Natal, em protesto
denominado “Fora Micarla”, o qual pedia o afastamento da então prefeita
por acusações de improbidade pública. A ex-prefeita ainda teve o seu
nome envolvido em denúncias do Ministério Público em junho de 2012, no
caso que ficou conhecido como a Operação Assepsia.
Na
época, o Ministério Público Estadual, por intermédio do procurador de
Justiça, Manoel Onofre Neto, acusou a prefeita, o seu marido, Miguel
Weber, e os auxiliares Bosco Afonso e Jean Valério, de participação em
fraudes na Secretaria Municipal de Saúde. As supostas fraudes são
relativas à contratação de organizações sociais para gerir serviços de
saúde.
Em virtude do suposto envolvimento, a prefeita e auxiliares foram afastados de suas funções públicas.
Micarla
de Sousa foi afastada da prefeitura no dia 31 de outubro de 2012 por
decisão do desembargador Amaury Moura, a pedido do então
procurador-geral de Justiça, Manoel Onofre Neto. Ele alegou, na ocasião,
que o afastamento seria para evitar que recursos públicos fossem
indevidamente utilizados.
Entre as acusações
para o afastamento estavam “gastos acima dos rendimentos e acordos para
remessas de valores”. Em 27 de junho do ano passado, a Ministério
Público Estadual deflagrou a Operação Assepsia para investigar fraudes
no processo de licitação que contratou o Instituto Pernambucano de
Assistência e Saúde (IPAS), do Instituto de Tecnologia Capacitação e
Integração Social (ITCI) e da Associação Marca pela Secretaria de Saúde.
Agora, mais de um ano depois, o MP apresentou formalmente a denúncia à
Justiça. Além da ex-prefeita, outras 29 pessoas foram acusadas.
Tribuna do Norte
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