Uma
coincidência levou um dos principais nomes da Família do Norte (FDN) a
passar um mês na maior penitenciária do Rio Grande do Norte, o presídio
de Alcaçuz, na Grande Natal.
Usando uma identidade falsa, Gelson Lima
Carnaúba, o Mano G, foi preso ao desembarcar no aeroporto do Rio,
em janeiro de 2015, já que contra ele havia um mandado de prisão em
aberto. Não sabiam os investigadores que o homem seria mantido na sede
do Sindicato do RN, facção de resistência ao PCC, e durante um mês
exerceria sua influência para empoderar a organização potiguar.
Só depois de 30 dias, com a argumentação de que a presença de Mano G no
Estado nordestino facilitaria a comunicação com a facção do Norte, a
Justiça autorizou a sua transferência para um presídio federal, primeiro
o de Mossoró (RN) e posteriormente o de Catanduvas (PR), onde ele
permanece até hoje. Entre julho e agosto do ano passado, o Sindicato foi
apontado como responsável por 108 ataques em 38 cidades em reação à
instalação de bloqueadores de celular.
Alianças
As
principais facções que atuam no País, PCC e CV, estão presentes em
praticamente todos os Estados do Nordeste. Seja em células próprias ou
na figura de facções locais aliadas. Segundo juízes, promotores e
policiais, há integrantes dentro e fora das unidades do sistema
prisional, incluindo aquelas destinadas ao internamento de menores de
idade.
Essas
facções, na avaliação dos profissionais que atuam nas áreas de
segurança e no Judiciário, são apontadas como responsáveis por grande
parte das rebeliões e dos ataques coordenados contra prédios públicos,
sistema de transporte, pontos comerciais e alvos em geral, como os
registrados no Rio Grande do Norte e no Ceará, entre maio e agosto do
ano passado.
Os
grupos criminosos também estariam por trás de outros inúmeros crimes,
com destaque para o roubo de carga e de veículos, arrombamentos e
explosões de agências bancárias e caixas eletrônicos, tráfico de drogas e
de armas, sequestros e assassinatos.
Manda e desmanda
No
Rio Grande do Norte, onde de acordo com o juiz titular da Vara de
Execuções Penais de Natal, Henrique Baltazar, a situação é “gravíssima”,
todas as 32 unidades prisionais são dominadas pelas facções. Além
disso, estes grupos teriam o controle de diversos bairros, a exemplo da
comunidade de Mãe Luiza, onde o Sindicato do RN domina desde a entrada e
saída de “estranhos” até a prisão, o julgamento e a execução de quem é
pego cometendo delitos.
“Hoje
digo sem medo de errar que o sistema prisional do Rio Grande do Norte é
dominado pelas facções e que o Estado virou refém desses grupos.
Desde
2015, quando o Estado cedeu às pressões dos presos para fazer centenas
de transferências que acabaram loteando as unidades entre as facções,
nunca mais o controle foi recuperado. Para se ter uma ideia, a maioria
das unidades não tem nem sequer mais grades nas celas.”
O
domínio do crime nos bairros e comunidades de Natal e região
metropolitana também foi denunciado pelo magistrado. Atualmente, o
número de pessoas presas no Estado é de aproximadamente 8 mil, quase
três vezes a capacidade do sistema carcerário local, de 3 mil.
* No Minuto.com