A presidenta Dilma Rousseff tem até amanhã (22) para apresentar uma
resposta ao Tribunal de Contas da União (TCU) na tentativa de evitar que
as contas públicas de 2014 sejam reprovadas pelo órgão. No mês passado,
o tribunal tomou uma decisão inédita ao adiar a análise das contas por
30 dias, para que o governo federal esclareça indícios de descumprimento
da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Em acórdão aprovado no
mês de abril, o TCU constatou irregularidades no atraso do repasse de
verbas do Tesouro Nacional a bancos públicos para o pagamento de
despesas com programas sociais do governo, como Bolsa Família,
seguro-desemprego e abono salarial. O governo pretende responder aos
questionamentos argumentando que as transferências de recursos são
regulares e que a metodologia não é nova, pois vem sendo usada desde
2001, quando foi criada a LRF.
No entendimento dos ministros do
tribunal, a atitude do governo foi considerada uma operação de crédito
porque, na prática, os bancos públicos emprestavam valores à União. O
procedimento é proibido pela LRF. Já o governo discorda dessa avaliação
alegando que as práticas ocorreram durante períodos curtos, que acabam
sendo compensados no momento em que os bancos recebem os recursos e
ficam com saldos positivos.
O tribunal quer saber a real situação
da contabilidade do governo. “Restou confirmado nos autos que: despesas
concernentes ao Bolsa Família, ao seguro-desemprego e ao abono foram
pagas pela Caixa; subsídios do Programa Minha Casa, Minha Vida vêm sendo
financiados pelo FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço]; e
subvenções econômicas, sob a modalidade de equalização de taxas de
juros, vêm sendo bancadas pelo BNDES ou pelo Banco do Brasil”, escreveu o
ministro do TCU José Múcio Monteiro, ao apreciar as operações.
Nessa
segunda-feira (20), Dilma se reuniu com ministros, que vêm sendo
escalados para fazer a defesa do governo, e presidentes de bancos
públicos. Participaram do encontro os ministros da Advocacia-Geral da
União, Luís Inácio Adams, do Planejamento, Nelson Barbosa, da
Controladoria-Geral da União, Valdir Simão, e da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, além dos presidentes do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, da
Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho, e do Banco
Central, Alexandre Tombini.
Em repetidas declarações, o
advogado-geral da União e o ministro do Planejamento têm dito que a
prática é normal e correta, mas que se for entendida como operação de
crédito, deve haver um aperfeiçoamento das regras e não uma punição,
pois o procedimento também ocorreu em outros anos. Nas últimas semanas,
ele e Nelson Barbosa têm comparecido em audiências na Câmara e no Senado
e feito reuniões com parlamentares com o objetivo de convencê-los de
que as práticas são regulares. “São operações que foram objeto de
aprovação pelo próprio TCU em exercícios anteriores, são operações que
tem por objetivo adaptar a política fiscal para uma melhor evolução da
economia”, disse Nelson Barbosa.
O assunto também já foi discutido
em encontro entre Dilma, ministros, presidentes e lideranças de
partidos na reunião do chamado conselho político. Na opinião Adams, não
há necessidade de pedir mais tempo ao tribunal, pois os elementos de
defesa estão sistematizados. “O governo está absolutamente confiante
nesse sentido. Temos plena confiança de que o TCU terá ponderação e
equilíbrio para tomar uma decisão desse nível”, afirmou o AGU na semana
passada.
O TCU é responsável pela análise técnica das contas do
Executivo e sua decisão servirá de subsídio ao Congresso Nacional,
responsável pelo julgamento das contas da presidenta Dilma Rousseff.
Após o adiamento da análise do TCU, o relator do parecer, ministro
Augusto Nardes, entregou ao presidente do Congresso Nacional, Renan
Calheiros (PMDB-AL), o documento com a avaliação de que as contas não
estavam, “no momento, em condições de serem apreciadas”. Depois que
receber as respostas, Nardes vai formular seu voto e convocar uma
reunião plenária para que os demais ministros também apreciem as contas.
Agência Brasil
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