O lobista e delator da Lava Jato Júlio Camargo repassou R$ 125 mil
para a igreja evangélica Assembleia de Deus Ministério Madureira, em
Campinas (SP). A informação consta da quebra de sigilo bancário da
empresa Treviso, utilizada por Camargo para repassar propinas no esquema
de corrupção na Petrobras revelado pela Lava Jato. Nem o pastor da
igreja nem a defesa de Júlio Camargo quiseram dar explicações sobre o
repasse.
Laudo da Polícia Federal aponta que a quantia foi repassada entre
2008 e 2014, sem detalhar se o valor foi pago de uma só vez ou em
parcelas. A movimentação é a única feita no período pelas duas empresas
de Júlio Camargo (Piemonte e Treviso) que teve como destino uma
instituição religiosa.
O repasse mostra que o delator, que disse à Justiça ter sido
pressionado pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a pagar
propina de US$ 5 milhões, também repassou dinheiro para uma igreja
simpática ao deputado expoente da bancada evangélica.
Culto
Em fevereiro deste ano, Cunha chegou a participar de um culto de mais de
duas horas em comemoração a sua eleição para a Presidência da Câmara
junto com outros políticos na Assembleia de Deus Madureira, no Rio de
Janeiro. Na ocasião ele declarou ter trocado a Igreja Sara Nossa Terra
pela Assembleia de Deus Madureira. A bancada evangélica foi uma das que
mais apoiaram Cunha na eleição para a Presidência da Câmara.
O presidente da Assembleia de Deus Madureira no Rio, pastor Abner
Ferreira, contemplou o presidente da Câmara no culto. “O Satanás teve
que recolher cada uma das ferramentas preparadas contra nós. Nosso irmão
em Cristo é o terceiro homem mais importante da República”, disse o
religioso na época. Abner Ferreira é irmão do pastor Samuel Ferreira,
que preside a Assembleia de Deus no Brás, em São Paulo, e aparece no
registro da Receita Federal como presidente da Assembleia de Deus
Madureira em Campinas, que recebeu os R$ 125 mil da empresa de Júlio
Camargo.
Réu na Lava Jato, Júlio Camargo fez acordo de delação e admitiu a
existência do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras e também
ter utilizado suas empresas para operar propinas aos executivos da
estatal indicados por partidos políticos. Sua empresas também fizeram
doações oficiais para campanhas de políticos em 2010 e 2012 que
totalizaram R$ 1 milhão. Dentre os que receberam recursos estão o líder
do governo no Senado, Delcídio Amaral, que recebeu R$ 200 mil em 2010, e
a senadora Marta Suplicy (sem partido), que recebeu R$ 100 mil também
em 2010. Também foram feitas doações de R$ 150 mil ao diretório nacional
do PMDB.
Defesa
A reportagem entrou em contato com a assessoria do pastor Samuel
Ferreira, que informou que ele não iria se manifestar sobre o caso. A
defesa de Júlio Camargo também não quis comentar a transação.
Fonte: Terra
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