Uma pesquisa de mestrado aponta
que 42% dos cães no interior do Rio Grande do Norte estão infectados pelo
Trypanossoma cruzi, agente causador da doença de Chagas. O estudo é do médico
veterinário Vicente Toscano, que concluiu em 2018 mestrado pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Vicente usou um método de biologia
molecular para chegar aos resultados.
"Esse método consiste na
retirada de uma pequena quantidade de sangue do cão. Em seguida, extraímos o
DNA do sangue do animal e realizamos um procedimento chamado de PCR, que
permite amplificar seguimentos do DNA e, assim, verificar ou não a presença do
DNA do Trypanossoma naquela amostra colhida", explicou o
veterinário.
A pesquisa durou dois anos e foi
realizada nos municípios de Caicó, Acari, Caraúbas e Marcelino Vieira no
interior do estado. Vicente explica que os animais infectados não apresentam
sintomas visíveis, nem transmitem a doença de Chagas, mas atuam como
sinalizadores da presença da infecção nessas localidades.
"O barbeiro é o inseto que
pode hospedar o protozoário Tryponossama e transmite a doença. A pessoa pode
ser infectada pelas fezes contaminadas do barbeiro ou pela ingestão de
alimentos contaminados, ou ainda pela transfusão sanguínea. Apesar de o cão não
transmitir a doença de Chagas, ele é um importante sinalizador da presença do
seu agente causador", alerta o veterinário.
Vicente diz que a vida média de um
cão gira entorno dos 10/15 anos e que a pesquisa apontou animais contaminados
aos quatro meses de vida. "Esse dado é importante porque comprova que a
doença de Chagas está ativa no estado e o poder público precisa atentar para
isso. Um animal aos quatro meses infectado é a prova de que o Trypanossoma está
agindo", frisa.
Em 2014, foi publicado o primeiro
estudo com revisão sistemática e metanálise para estimativa da prevalência da
doença de Chagas no Brasil. A partir desse e de outros estudos, as estimativas
mais recentes no país revelam que o número de pessoas infectadas pelo
Trypanossma varia entre 1,9 milhão e 4,6 milhões.
A Secretaria Estadual de Saúde diz
que o Programa de Controle da doença de Chagas atua nos 167 municípios
potiguares. Ainda segundo a Sesap, a maior concentração dos casos está nas
regiões de Mossoró, Caicó, Pau dos Ferros, Assu e Metropolitana de capital,
sendo que os casos da região Metropolitana são importados.
"A doença de Chagas traz
consequências ao ser humano, entre elas cardíacas, e o médico veterinário é um
importante agente no seu combate. Por isso, é importante a sua presença no
sistema de saúde pública", diz Vicente.
Foto: Marksuel Figueredo/Inter TV Cabugi
G1 RN