Em
2018, 25 trabalhadores foram resgatados no Rio Grande do Norte após serem
encontrados em condições degradantes no trabalho de extração da carnaúba e em cerâmicas
da região do Vale do Açu. Os dados são da Secretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT), ligada ao Ministério da Economia e foram divulgados pelo Ministério
Público do Trabalho por causa da celebração do Dia Nacional de Combate ao
Trabalho Escravo, nesta segunda-feira (28).
Ao todo, o
número de trabalhadores flagrados em condições análogas às de escravo no país
chegou a 1.723 no ano passado. Entre 1995 e 2018, 61 trabalhadores foram
achados nessa condição no Rio Grande do Norte.
Os resgates
no estado em 2018 aconteceram no mês de novembro, em duas operações no Vale do
Açu. Na soma, 25 pessoas foram retiradas de condições degradantes de trabalho.
Nas frentes
de trabalho de extração da palha da carnaúba, que foram alvo da primeira
operação, nenhum trabalhador encontrado havia sido registrado. Não havia
equipamentos de proteção individual, apesar dos riscos que envolvem a
atividade, nem controle de jornada de trabalho. Na ocasião, foram resgatados 19
trabalhadores, todos dormindo e fazendo refeições sem abrigo, na caatinga.
Já a
operação realizada pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Grupo Especial
Móvel de Fiscalização no setor ceramista, que fiscalizou 31 olarias e
cerâmicas, constatou descumprimentos de normas básicas de segurança,
salubridade e higiene.
Segundo o
depoimento de um dos trabalhadores, as refeições eram preparadas em fogueiras
improvisadas no chão da olaria, e não havia banheiros. Foram resgatados seis
trabalhadores que localizados dormindo e fazendo suas refeições sem condições
de higiene e segurança, nas cerâmicas.
O número
corresponde a 70% da marca histórica do Estado até então, que havia registrado
o resgate de 29 trabalhadores que atuavam em Alto do Rodrigues, em 2004, e sete
trabalhadores localizados em Maxaranguape, em 2008, todos empregados como
mão-de-obra na fruticultura.
Dados nacionais
Em todo o
país, somente no ano passado, o MPT recebeu 1.251 denúncias, ajuizou 101 ações
civis públicas e celebrou 259 termos de ajuste de conduta (TACs) relacionados a
trabalho escravo. Entre as atividades econômicas com maior número de
trabalhadores nessas condições estão a pecuária e o cultivo de café. Segundo
dados do Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil, ferramenta
desenvolvida pelo MPT em parceria com a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), 30,9% dos trabalhadores em condições análogas às de escravo são
analfabetos e 37,8% possuem até o 5º ano incompleto.
Os dados
apontam é no meio rural onde os casos são mais frequentes. Segundo o
levantamento nacional, foram flagrados 523 trabalhadores em condições análogas
às de escravo em área urbana, enquanto que no meio rural foram registrados
1.200 casos.
A
coordenadora regional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), procuradora
do Ministério Público do Trabalho Lys Sobral Cardoso, afirmou que os casos de
trabalho escravo urbano têm como um dos fatores o êxodo rural, que continua
acontecendo no país. “Os trabalhadores continuam saindo do meio rural para o
meio urbano. Por falta de oportunidades, eles se sujeitam a qualquer oferta de
trabalho que surge, o que aumenta sua vulnerabilidade”, explica.
G1RN