A intenção do
governo Bolsonaro de mudar as regras sobre posse de armas e endurecer o sistema deprogressão de pena a condenados pode não encontrar
resistência no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente da Corte, ministro
Dias Toffoli, acredita que toda política pública pode ser alvo de mudança,
desde que não ofenda cláusula pétrea da Constituição — ou seja, aquelas regras
que não podem ser alteradas.
Para Toffoli, é
juridicamente possível deixar o preso atrás das grades por mais tempo, como
defende o governo Bolsonaro. Hoje, para um condenado trocar o regime fechado
pelo semiaberto, por exemplo, precisa cumprir no mínimo um sexto da pena. O
Planalto quer aumentar o tempo para essa transição.
Toffoli também
explicou que políticas que facilitem o acesso da população a armas podem, em
tese, ser alteradas por novas legislações. O governo Bolsonaro planeja editar
um decreto sobre o tema, e o texto está sendo analisado na Casa Civil. Toffoli
ponderou, no entanto, que não pode haver mudança em cláusulas pétreas e citou
como exemplo a pena de morte, que é vedada pela Constituição.
— Qualquer
política pública pode ser formatada, desde que não ofenda cláusula pétrea. Por
exemplo: alterar regime de progressão de pena é possível, a Constituição não
impede. Alterar a política de armamento da população, a Constituição também não
impede. Estabelecer pena de morte: aí a Constituição impede, é cláusula pétrea
— disse o ministro ao GLOBO.
Como já disse em
outras ocasiões, Toffoli quer deixar o protagonismo para os novos Executivo e
Legislativo, eleitos pela população. Ficariam na conta do STF só decisões
essenciais para garantir a democracia e a liberdade de expressão. Ainda assim,
alguns temas serão inevitáveis, como a reforma da Previdência. Se aprovada no
Congresso Nacional, certamente será questionada no STF. A recomendação de
Toffoli é que seja negociada uma reforma para reduzir regras, e não ampliar,
como uma forma de gerar menos contestação judicial.
— Todas as
reformas vieram para o STF. Isso é o resultado de uma Constituição muito ampla.
Talvez o caso seja de reformas que diminuam o tamanho da Constituição, e não
que aumentem. Porque, quanto mais aumenta, mais você dá margem para contestação
jurídica, para conflito jurídico. Esse é um dos problemas das nossas reformas:
elas geralmente tendem a aumentar o número de dispositivos da Constituição —
ponderou.
Toffoli também
defendeu a liberdade de imprensa e disse que o STF sabe conviver com as
críticas.
— Se você tem
uma imprensa manietada, censurada, ou se você tem um Judiciário que não é
independente, você vai ter o autoritarismo de alguma forma. E quem garante a
imprensa livre no Brasil é o Supremo. Mesmo que muitas vezes o Supremo seja
criticado pela imprensa tradicional, ou ministros sejam criticados, é unânime
aqui a defesa da liberdade de imprensa e de uma imprensa livre — declarou Toffoli.
O GLOBO