O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, decidiu antecipar
para esta terça-feira (23) a apresentação de um relatório sobre os presídios
brasileiros para contrapor a discussão da maioridade penal. Ao traçar um
cenário que considera “assustador”, Cardozo estimou que 30 a 40 mil jovens
entrariam no sistema por ano com a mudança na legislação em discussão na Câmara
dos Deputados.
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen),
divulgado nesta terça-feira, será distribuído a todos os deputados e senadores
na tentativa de barrar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) prevista para
ser votada no dia 30. A comissão especial criada na Câmara aprovou, na semana
passada, a redução da maioridade penal para crimes hediondos e outros delitos
graves.
A ideia era divulgar o relatório entre julho e agosto, no
lançamento de um pacto contra a violência, mas foi acelerado depois que o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu pautar a maioridade
penal em plenário ainda neste mês. O texto será distribuído a todos deputados e
senadores na tentativa de barrar a alteração na legislação.
“Entendi como correto antecipar o lançamento do relatório para
que o Congresso Nacional e a sociedade debatam as consequencias, que eu
reputaria trágicas, da redução da maioridade penal para a segurança pública
brasileira”, disse Cardozo.
Nas contas do governo, até 40 mil jovens poderiam entrar no
sistema carcerário apenas pelos crimes de tráfico e roubo qualificado,
previstos na PEC. A entrada desses menores ocuparia todas as vagas criadas
desde 2011, por estímulo do governo federal. “Não temos dados seguros para
isso, mas nossa projeção é que só de crimes de tráfico e roubo, o sistema terá
de 30 a 40 mil jovens novos por ano. Ou seja, aquilo que nós no governo federal
trabalhamos no limite para gerar em quatro anos, será consumido só pelos jovens
que entram no sistema”, disse. “O sistema prisional entrará em colapso.”
A criação das vagas novas não resolve o déficit do sistema
prisional brasileiro. A população prisional é, de acordo com o relatório, de
607.731 pessoas, sendo que o número de vagas no País é de 376.669. O documento
traz outros dados preocupantes, como a probabilidade de infecção por HIV nas
penitenciárias (60 vezes maior do que fora das cadeias) e a taxa de homicídios,
que é seis vezes maior em comparação proporcional ao que ocorre fora das
unidades. “Se houver redução da maioridade penal, os números da pesquisa
serão muito piores. Antecipei o relatório para que o Congresso Nacional medite
sobre isso”, disse.
Numa fala inflamada, Cardozo atacou as iniciativas de redução da
idade penal e disse que a alteração poderia resultar em efeitos colaterais.
Segundo ele, a maioridade penal poderia levar jovens a obter carteira de
habilitação para dirigir com 16 anos e comprar bebidas. A medida também
poderia, na avaliação dele, tirar o agravante de estupro contra jovens entre 16
e 18 anos, pois passariam a ser adultos.
Fonte: Terra