O Brasil tem atualmente um déficit de quase 3 mil vagas
para acolher os 18.378 jovens em conflito com a lei obrigados a cumprir
medidas socioeducativas. Segundo um relatório do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) divulgado hoje (8), as 443 unidades de
internação e de semiliberdade, juntas, somam 15.414 vagas. Além disso,
mais da metade dos estabelecimentos inspecionados foram considerados
insalubres.Promotores de Justiça da Infância e Juventude inspecionaram, em março
de 2012 e no mesmo mês deste ano, 287 das 321 unidades de internação
provisória ou definitiva cadastradas no banco de dados do CNMP. Eles
relataram ter encontrado estabelecimentos superlotados em 15 estados,
além do Distrito Federal. No Maranhão, segundo os promotores, o total de
internos superava em 459% o número de vagas. Entre os piores
resultados, na sequência vem Mato Grosso do Sul (354%); Alagoas (325%);
Ceará (203%) e Paraíba (202%).
Ainda em relação às unidades de internação, o melhor resultado, em
termos percentuais, foi verificado no Piauí, onde 6% das vagas
disponíveis estavam ocupadas. O estado tem dois estabelecimentos que,
juntos, oferecem 31 vagas, das quais cinco estavam ocupadas. Ainda em
termos percentuais, em seguida vem o Rio Grande do Norte (55%); Roraima
(56%); Amazonas (63%) e Mato Grosso (83%).
A superlotação também foi verificada em grande parte das 105 unidades
de semiliberdade visitadas. Segundo o CNMP, há 122 estabelecimentos
desse tipo em funcionamento no país. Em Alagoas, estado onde os
promotores constataram uma situação “alarmante”, o sistema de
acolhimento tem condições de atender a 15 crianças ou adolescentes e,
segundo o relatório, havia 175 em situação de conflito com a lei – um
déficit de 1.166%.
O relatório Um Olhar Atento às Unidades de Internação e Semiliberdade para Adolescentes
aponta outros problemas constatados nas unidades visitadas, como a
falta de separação dos internos por faixas etárias, porte físico e tipos
de infração.
O documento também chama a atenção para a distância entre o local
onde os jovens cumprem a medida socioeducativa e o lugar onde seus pais
ou parentes mais próximos vivem. Em todas as regiões brasileiras, ao
menos 20% das unidades abrigam uma maioria de internos que poderia estar
em estabelecimentos mais próximos das casas de seus pais. A distância,
sugere o relatório, prejudica as ações socioeducativas que dependem do
envolvimento familiar.
Embora em todas as regiões o percentual de unidades que responderam
dispor de sala de aula tenha superado os 50%, atingindo 83% na Região
Sudeste e 72,5% na Região Norte, o relatório aponta a inadequação desses
espaços. O resultado é ainda pior quando verificada a existência de
espaços para a profissionalização dos internos e um pouco melhor quanto a
existência de espaços para a prática de esportes, cultura e lazer.
A conclusão do relatório vai no sentido contrário dos que apontam a
necessidade de penas mais rigorosas para os jovens infratores. Para os
responsáveis pela publicação, apesar do “desconforto social causado pelo
envolvimento de adolescentes em atos de requintada violência, limitar a
problemática infracional ao debate sobre a redução da maioridade penal
é, de todas e, de longe, a saída mais fácil e menos resolutiva”.
Agência Brasil
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