O Palácio
do Planalto reforçou a operação para impedir a criação da Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras. Na tentativa de convencer os
insatisfeitos da base de apoio governista a não aprovar a CPI, emissários da
presidenta Dilma Rousseff vão usar como argumento a sobrevivência política dos
próprios aliados. O motivo é que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras
preso pela Polícia Federal na semana passada durante a Operação Lava Jato, é
visto como “homem bomba”, que pode causar muitas vítimas se for convocado a
depor no Congresso.
Suspeito de participação em esquema de lavagem de dinheiro, Costa foi indicado para a diretoria de Abastecimento da estatal pelo PP, mas acabou “adotado” pelo PMDB e também pelo PT. Em conversas reservadas, deputados e senadores do PT afirmam que o maior problema, agora, não é a investigação do contrato de compra da refinaria de Pasadena, no Texas, mas, sim, a possível descoberta das ramificações políticas do esquema controlado por Costa.
No
Planalto, auxiliares de Dilma dizem ter certeza de que a CPI não passará porque
ninguém da base aliada quer puxar esse fio da meada, nem mesmo o “blocão”,
grupo que reúne sete partidos dispostos a criar dificuldades ao governo no
Congresso. “Os dois PMDBs, o da Câmara e o do Senado, têm interesse na
Petrobras”, garante um interlocutor da presidenta.
Há
dúvidas até mesmo quanto ao comportamento da oposição, embora o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) esteja agora defendendo a CPI. Dirigentes do
PT afirmam que, se a CPI for criada, aliados do governo vão lembrar o
afundamento da maior plataforma petrolífera do mundo, a P-36, ocorrida em março
de 2001, no governo Fernando Henrique, na Bacia de Campos. Dizem, ainda, que
todos podem perder com a CPI, mesmo aqueles adversários que apostam nos
dividendos eleitorais. Para o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR),
CPI é sempre uma faca de dois gumes. “Todos sabem como começa, mas ninguém sabe
como termina”, observou ele.
Nos
bastidores, petistas alegam que o Planalto padece de uma estratégia de comunicação
para tirar Dilma da crise da Petrobras e evitar mais danos à sua imagem de
gerente num ano eleitoral. A presidenta puxou o desgaste para o Planalto ao
dizer, em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo, que só votou
favoravelmente à compra da refinaria de Pasadena, em 2006, porque recebeu
“informações incompletas” e um relatório “tecnicamente e juridicamente falho”.
Na época, Dilma era ministra da Casa Civil do governo Lula e presidente do
Conselho de Administração da Petrobrás.
Oposição.
A prisão de Paulo Roberto Costa também deixa a oposição cética sobre o sucesso
em conseguir instalar uma CPI. O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ),
ex-presidente do partido, acha que com a entrada deste poderoso personagem no
cenário, parlamentares podem preferir não defender a CPI. “O contexto não é
mais o mesmo de uma semana atrás, quando os partidos da base estavam dispostos
a apoiar uma investigação mais aprofundada. Agora eu fico cético com a prisão
do Paulo Roberto. Quero ver qual será o apetite desses partidos, se haverá a
mesma boa vontade de antes da base para colaborar “, provocou o deputado.
O senador
Aloysio Nunes (PSDB-SP) ironizou: “Jabuti, sozinho, não sobe em árvore. Quem
colocou os jabutis Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na cúpula da Petrobras
tem muita força no Congresso e tudo farão para impedir investigações
parlamentares, sobretudo a CPI sobre a negociata de Pasadena”. E passa um
recado. “A oposição, no entanto, vai pressionar contando com o apoio de
parlamentares governistas que não renunciaram a cumprir o seu dever. Aliás, não
é demais lembrar que em ano de eleição essa renúncia tem um preço caro”,
finalizou. O sempre feroz líder da bancada do PMDB na Câmara, deputado Eduardo
Cunha, contemporizou nesta segunda em conversa com a reportagem. Afirmou que
ainda não tem o “termômetro” de seus correligionários. “Só vou sentir a
disposição da minha bancada amanhã (terça-feira).”
CPI
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito tem caráter temporário e é
destinada a investigar fato de relevante interesse para a vida pública e para a
ordem constitucional, legal, econômica ou social do País. A CPI tem poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais e pode ser criada no âmbito de
cada uma das Casas, por requerimento de 1/3 dos respectivos parlamentares.
Agência
Estado
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