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terça-feira, 25 de março de 2014

Governo federal tenta barrar CPI

André Vargas alerta que uma Comissão de Inquérito é sempre um risco, porque todos sabem como começa, mas ninguém sabe como termina
O Palácio do Planalto reforçou a operação para impedir a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras. Na tentativa de convencer os insatisfeitos da base de apoio governista a não aprovar a CPI, emissários da presidenta Dilma Rousseff vão usar como argumento a sobrevivência política dos próprios aliados. O motivo é que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso pela Polícia Federal na semana passada durante a Operação Lava Jato, é visto como “homem bomba”, que pode causar muitas vítimas se for convocado a depor no Congresso.

Suspeito de participação em esquema de lavagem de dinheiro, Costa foi indicado para a diretoria de Abastecimento da estatal pelo PP, mas acabou “adotado” pelo PMDB e também pelo PT. Em conversas reservadas, deputados e senadores do PT afirmam que o maior problema, agora, não é a investigação do contrato de compra da refinaria de Pasadena, no Texas, mas, sim, a possível descoberta das ramificações políticas do esquema controlado por Costa.

No Planalto, auxiliares de Dilma dizem ter certeza de que a CPI não passará porque ninguém da base aliada quer puxar esse fio da meada, nem mesmo o “blocão”, grupo que reúne sete partidos dispostos a criar dificuldades ao governo no Congresso. “Os dois PMDBs, o da Câmara e o do Senado, têm interesse na Petrobras”, garante um interlocutor da presidenta.

Há dúvidas até mesmo quanto ao comportamento da oposição, embora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) esteja agora defendendo a CPI. Dirigentes do PT afirmam que, se a CPI for criada, aliados do governo vão lembrar o afundamento da maior plataforma petrolífera do mundo, a P-36, ocorrida em março de 2001, no governo Fernando Henrique, na Bacia de Campos. Dizem, ainda, que todos podem perder com a CPI, mesmo aqueles adversários que apostam nos dividendos eleitorais. Para o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), CPI é sempre uma faca de dois gumes. “Todos sabem como começa, mas ninguém sabe como termina”, observou ele.

Nos bastidores, petistas alegam que o Planalto padece de uma estratégia de comunicação para tirar Dilma da crise da Petrobras e evitar mais danos à sua imagem de gerente num ano eleitoral. A presidenta puxou o desgaste para o Planalto ao dizer, em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo, que só votou favoravelmente à compra da refinaria de Pasadena, em 2006, porque recebeu “informações incompletas” e um relatório “tecnicamente e juridicamente falho”. Na época, Dilma era ministra da Casa Civil do governo Lula e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás.

Oposição. A prisão de Paulo Roberto Costa também deixa a oposição cética sobre o sucesso em conseguir instalar uma CPI. O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente do partido, acha que com a entrada deste poderoso personagem no cenário, parlamentares podem preferir não defender a CPI. “O contexto não é mais o mesmo de uma semana atrás, quando os partidos da base estavam dispostos a apoiar uma investigação mais aprofundada. Agora eu fico cético com a prisão do Paulo Roberto. Quero ver qual será o apetite desses partidos, se haverá a mesma boa vontade de antes da base para colaborar “, provocou o deputado.

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) ironizou: “Jabuti, sozinho, não sobe em árvore. Quem colocou os jabutis Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na cúpula da Petrobras tem muita força no Congresso e tudo farão para impedir investigações parlamentares, sobretudo a CPI sobre a negociata de Pasadena”. E passa um recado. “A oposição, no entanto, vai pressionar contando com o apoio de parlamentares governistas que não renunciaram a cumprir o seu dever. Aliás, não é demais lembrar que em ano de eleição essa renúncia tem um preço caro”, finalizou. O sempre feroz líder da bancada do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha, contemporizou nesta segunda em conversa com a reportagem. Afirmou que ainda não tem o “termômetro” de seus correligionários. “Só vou sentir a disposição da minha bancada amanhã (terça-feira).”

CPI 
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito tem caráter temporário e é destinada a investigar fato de relevante interesse para a vida pública e para a ordem constitucional, legal, econômica ou social do País. A CPI tem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais e pode ser criada no âmbito de cada uma das Casas, por requerimento de 1/3 dos respectivos parlamentares.

Agência Estado 


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