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segunda-feira, 31 de março de 2014

Dilma provoca estragos nas áreas de petróleo, de álcool e de eletricidade

A economista Dilma Rousseff fez carreira política e ganhou fama de gestora pública ferrenha ao se apresentar como especialista no planejamento do setor energético. Alçada, em 2011, à Presidência da República, ela assiste agora, no último ano de seu mandato, a uma consolidação de turbulências simultâneas nas áreas de eletricidade, petróleo e etanol, provocadas por suas decisões polêmicas, algumas tomadas ainda quando era ministra de Minas e Energia e, depois, da Casa Civil. Essa crise, cada vez mais evidente, tem gerado impactos crescentes na saúde fiscal da União, na balança comercial e nas projeções de crescimento econômico do país.

O quadro de estresse no setor preferido da presidente reúne nós difíceis de desatar. Numa das pontas, ecoam a ameaça crescente de um racionamento de energia e o fato de as distribuidoras de eletricidade dependerem cada vez mais de mesadas do Tesouro Nacional para não quebrarem. Na outra, estão os preços defasados dos combustíveis, que, além de minarem o caixa da Petrobras, estão estraçalhando as contas externas do país. Para completar, há o desarranjo do complexo sucroalcooleiro, com usinas que acreditaram na promessa de renovação da matriz energética brasileira, investiram pesado apostando no aumento do consumo que não veio e, agora, só contabilizam prejuízos. A situação é tão preocupante nesse segmento que, em nenhum estado do país, é mais vantajoso abastecer o carro com álcool.

O problema para o consumidor, ao menos por enquanto, não é a falta de energia, mas sim o aumento no valor da conta a ser paga”
Fábio Luiz Cuberos, diretor da Safira Energia

“O que estamos assistindo é a coroação de medidas equivocadas, tomadas de forma voluntarista, sem ouvir os agentes do ramo. O problema é que a fatura dos estragos está sendo compartilhada com toda a sociedade”, observa um executivo da área de açúcar e álcool, elo mais frágil da matriz energética, imprensado pela indústria petroleira e pela geração elétrica. Depois de pedidos reiterados de socorro federal, o conjunto estratégico de usinas de etanol do país — concentradas no Triângulo Mineiro, em Goiás e no oeste de São Paulo — começa a dar marcha a ré ao ousado processo de resistência energética do país, iniciado em 1975 com o Proálcool. Tudo porque o governo insiste em obrigar a Petrobras a vender gasolina importada por preços irreais.

Silêncio

O desânimo é geral. “O quadro atual é uma aberração, bem diferente daquele vendido pelo então presidente Lula ao colega George W. Bush, quando da visita do norte-americano ao país em 2005. O Brasil passou a importar etanol dos Estados Unidos em vez de exportar. E não consegue produzir derivados de petróleo em quantidade suficiente para atender o consumo interno”, lembra outro empresário.

Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram que o deficit da balança comercial de combustíveis, resultado de importações maiores que exportações, vai se ampliar em 2014. Apenas o rombo provocado pelas compras de óleo diesel será de US$ 9 bilhões neste ano e o da gasolina, de US$ 2,5 bilhões. Isso considerando uma alta de 4% da demanda de derivados de petróleo. Em nota, a Petrobras informa ao Correio que, “no momento, não fará comentários sobre o assunto”.

Adilson Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não tem dúvidas de que a situação no setor energético vai piorar, sobretudo por causa do peso cada vez maior do parque termelétrico na garantia de abastecimento de casas e empresas. Ou seja, os brasileiros devem preparar o bolso para, assim que passar as eleições presidenciais de outubro, começar a pagar mais pela conta de luz. Como a capacidade do Tesouro de bancar os subsídios está se esgotando, o encarecimento da energia elétrica será inevitável.

João Carlos Mello, presidente da Thymos Consultoria, ressalta que, de março a dezembro deste ano, as térmicas projetam receita bruta de R$ 24 bilhões, montante que poderia ser economizado com uma campanha nacional em favor da economia voluntária do consumo residencial de eletricidade. O Palácio do Planalto, contudo, resiste em anunciar a medida, com receio de desgaste político, já que Dilma tentará a reeleição e não quer ser associada ao racionamento de 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Mello ressalta que, enquanto o governo se prende a questões políticas, o estrago só aumenta. Ele estima em 30% o reajuste no valor dos contratos de energia a serem negociados em 2015. Na sexta-feira, a Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE) fixou para esta semana o preço de R$ 822,83 para o MW médio, recorde em vigor desde fevereiro.

Para Fábio Luiz Cuberos, diretor da Safira Energia, a ativação das termelétricas é uma resposta inevitável diante do estresse hídrico. “Só que, ao contrário de 13 anos atrás, desta vez, o problema para o consumidor, ao menos por enquanto, não é a falta de energia, mas sim o aumento no valor da conta a ser paga”, destaca. No entender dele, os estragos poderiam ser minimizados se houvesse melhor manutenção nos equipamentos da rede e um melhor planejamento na expansão do parque gerador e das linhas de transmissão do sistema, sobretudo no Nordeste. A média de atraso nas obras de ampliação da oferta de energia no país passa de 10 meses, prazo inconcebível para um governo comandado por uma expert no assunto.

Ganho de R$ 9 bi

Apenas as hidrelétricas de concessionárias que não aderiram ao plano de redução da conta de luz, definido unilateralmente pela presidente Dilma Rousseff, como a Cemig, a Copel e a Cesp, têm conseguido computar ganhos com o atual caos energético. Estima-se que, apenas nos dois primeiros meses do ano, tenham faturado, com outros agentes, como o Banco BTG Pactual, cerca de R$ 9 bilhões. Já as distribuidoras que comercializam energia mais cara no atacado vão receber, do Tesouro Nacional, pelo menos
R$ 23 bilhões entre 2013 e este ano, para continuarem de pé.

Fonte: Correio Braziliense

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