As condições naturais do Nordeste, com vários rios intermitentes e
grande variabilidade climática, fazem com que a região passe por
dificuldades hídricas. No entanto, fatores como as mudanças climáticas e
o modelo de desenvolvimento adotado pelos estados potencializam essas
condições.
“Não dá para fazer política de recursos hídricos sem
levar em conta as condições climáticas globais. Elas eram uma ameaça
para o futuro, mas não são mais, estão presentes. Além disso, vários
açudes grandes secaram em virtude de uma sobreutilização pelo
agronegócio e por grandes indústrias, que demandam grande quantidade de
água”, explica o professor do mestrado em climatologia da Universidade
Estadual do Ceará (Uece) Alexandre Araújo Costa.
Para o diretor
da Área de Gestão da ANA, Paulo Varella, é preciso tirar lições deste
longo período de seca. “Nessa perspectiva, é preciso trazer tecnologias
novas, como a do reúso, e também atentar para a qualidade da água. Temos
que alinhar o Semiárido com suas vocações e características.”
Transposição
Considerada
a obra mais importante de segurança hídrica do Nordeste, a transposição
do Rio São Francisco teve seu Eixo Leste inaugurado este mês, cujos
trechos levam águas do Velho Chico de Pernambuco à Paraíba. O Eixo
Norte, que vai levar água para o Ceará, ainda não teve as atividades
retomadas desde que a empresa vencedora da licitação desistiu do
contrato, mas, segundo o governo federal, deve ser finalizado até o fim
deste ano.
Para Costa, o projeto da transposição precisa ser
visto a partir das condições atuais do Rio São Francisco, cuja vazão
tende a se reduzir devido a problemas como o desmatamento, o
assoreamento e o próprio uso intensivo das águas.
“Será que o São
Francisco vai conseguir atender às demandas dentro da lógica que foi
colocada? Não vamos limitar a demanda, mas sim aumentar a oferta. Como o
rio não está bem das pernas, não pode ser colocado como tábua da
salvação.”
O professor também questiona o destino das águas da
transposição. Para ele, os canais de integração deverão servir
essencialmente aos grandes empreendimentos. “O projeto é vendido como se
fosse chegar à população do campo, mas elas são atendidas pelas
tecnologias sociais, como as cisternas. A transposição não é para isso.”
Varella
diz que a transposição pode ser considera “o menor dos problemas” do
Rio São Francisco. Segundo ele, a gestão das águas prevê regras
específicas, respeitando o limite dos recursos hídricos. Uma dessas
regras é o volume de água liberada, que será de 26 metros cúbicos por
segundo (m³/s), podendo chegar até 128 m³/s, quando o reservatório de
Sobradinho, na Bahia, estiver com maior capacidade.
“A
transposição, principalmente na Paraíba e no Rio Grande do Norte, onde
vai se dar ao longo do rio, pode democratizar o uso para os pequenos
agricultores. Esse pode se tornar um grande projeto de desenvolvimento
regional. A água terá que ser outorgada, cobrada respeitando o poder
pagador dos usuários.”
Agência Brasil