Quem costumava ver o açude do Castanhão, no Ceará, atrair
turistas, que vinham para pescar e admirar o maior reservatório público do
Brasil, hoje estranha o pouco movimento e também assiste os prejuízos
decorrentes do pouco volume de água.
“Os pescadores esportivos não vêm mais, os guias turísticos
estão parados. Em 2016, fechamos o restaurante que ficava de frente para a
barragem”, lamenta Maria Edilanda Silveira Maia, administradora de uma pousada
em Jaguaribara, no Ceará (a 230 quilômetros de Fortaleza).
Dos 6,7 bilhões de água do Castanhão, hoje só permanecem 5,5%.
O açude, que abastece a grande Fortaleza, é apenas um exemplo da situação
hídrica do Nordeste nos últimos cinco anos, considerada crítica pela Agência
Nacional de Águas (ANA).
Entre 2012 e 2017, o volume dos reservatórios da região passou
de 67,1% de disponibilidade para 15,6% no fim de janeiro deste ano. O baixo
volume de chuvas nesse período fez com que grande parte do Nordeste passasse a
conviver com uma situação de seca excepcional, segundo o Monitor de Secas do
Nordeste.
Com o início dos períodos chuvosos, os nordestinos ficam
esperançosos de que o longo período de seca tenha fim. No Ceará, as precipitações de fevereiro superaram a
média histórica e na primeira quinzena de março, considerado o
mês mais chuvoso da quadra chuvosa (período entre fevereiro e maio em que é
esperado o maior volume de chuvas do ano no estado), já choveu o equivalente a
65% da média histórica.
“Estamos esperançosos de que o nível do Castanhão vai aumentar
e de que voltem tanto os pescadores esportivos como as gaiolas dos
piscicultores. As chuvas deste ano estão gerando expectativa. Recebemos outro
dia a ligação de um pescador da Alemanha perguntando como estava a barragem”,
conta Edilanda.
O mapa de fevereiro do Monitor das Secas mostra uma redução
significativa das áreas tomadas pela seca em relação a janeiro, graças à
atuação da Zona de Convergência Intertropical. No entanto, as chuvas ficaram
mais concentradas na parte norte do Nordeste e, na maior parte da região, as
precipitações ficaram abaixo do esperado.
Restrições
O baixo volume de água levou a uma série de medidas
restritivas e obras de adutoras e poços para não zerar os estoques. Dos 533
reservatórios monitorados no Nordeste pela ANA, 152 estão secos. A maioria se
localiza no Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
“As águas passaram a ser liberadas a conta-gotas para que
pudéssemos chegar à próxima quadra chuvosa. Agora, estamos chegando num limite:
se não chover este ano o suficiente, vamos ter uma situação mais grave.
Entretanto, temos uma janela de esperança, pois tem chovido. Em situações
médias, não se resolve o problema de vários anos em poucos meses. Os grandes
açudes reagiram muito pouco, mas os pequenos açudes já reagem, o aspecto do
campo é outro”, descreve o diretor da Área de Gestão da ANA, Paulo Varella.
Agência Brasil