Após uma sabatina que durou 10 horas na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Casa, o plenário do Senado aprovou por 59 votos
favoráveis, 12 contrários e uma abstenção, a recondução de Rodrigo Janot
Monteiro de Barros ao cargo de procurador-geral da República. Na CCJ,
Janot havia obtido 26 votos favoráveis e um contrário.
A
indicação de Janot seguiu em regime de urgência ao Plenário onde foi
votada de forma secreta. O atual mandato do procurador-geral da
República termina no dia 17 de setembro.
Na sabatina, Janot se
deparou com questionamentos sobre a condução da Operação Lava-Jato. Aos
críticos, assegurou que não agiu com "seletividade" na definição dos
investigados e que a lei vale para todos. "Pau que dá em Chico dá em
Francisco", repetiu diversas vezes. "As pessoas me perguntam até onde a
investigação vai. Você tem que perguntar a essas pessoas até onde elas
foram. Nós não criamos esses fatos. Não temos nenhum preconceito, nenhum
preordenamento", afirmou.
Sem acordão
Ele
foi enfático ao negar a existência de um "acordão" com forças políticas
para definir quem seriam os políticos investigados no esquema de
corrupção na Petrobras. No início do ano, Janot decidiu que não cabe
investigação da presidente Dilma Rousseff (PT) por atos alheios ao
exercício do mandato.
Recentemente, a possibilidade do "acordo"
também foi ventilada pela oposição após o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), ter ficado de fora das primeiras denúncias
encaminhadas pela PGR ao Supremo Tribunal Federal, concomitantemente à
aproximação do peemedebista com o governo.
"Há 31 anos fiz a
opção pelo Ministério Público. A essa altura da minha vida, não deixaria
os trilhos da atuação técnica de Ministério Público para me embrenhar
num processo que eu não domino e não conheço, que é o caminho da
política", disse.
"Eu sou do Ministério Público, eu penso como
Ministério Público, eu ajo como Ministério Público, e esse é o
compromisso que assumo. Não há possibilidade de qualquer acórdão",
garantiu o procurador-geral.
Collor
A
grande tensão da sabatina ficou a cargo da participação do senador e
ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL). Denunciado por
Janot na última semana por suposto envolvimento no esquema da Petrobras,
Collor sentou na primeira bancada da CCJ e balbuciou xingamentos ao
procurador-geral da República durante as respostas do chefe do MPF.
Depois de arguir Janot, Collor deixou a sabatina e o clima no local foi
de calmaria.
Mesmo diante das provocações, nas respostas a
Collor, Janot manteve-se firme e deu respostas técnicas à bateria de
questionamentos sobre a sua gestão e comportamentos. Ele, entretanto,
aproveitou para dar uma indireta ao ex-presidente, que saiu do cargo
após processo de impeachment: "Não há futuro viável se condescendermos
com a corrupção".
Além de Collor, outros investigados por Janot
na Lava-Jato apareceram para registrar o voto e participar da sabatina,
como os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Edison Lobão (PMDB-MA), Gleisi
Hoffmann (PT-PR), Ciro Nogueira (PP-PI), Lindbergh Farias (PT-RJ) e
Humberto Costa (PT-PE).
Delação defendida
O
procurador-geral da República defendeu enfaticamente a delação premiada
como instrumento decisivo nas investigações para desmontar poderosas
organizações criminosas. Durante sabatina na CCJ, ele destacou que a
Itália conseguiu desativar a Máfia a partir das revelações do delator
Tommaso Buscetta, nos anos 1980.
"Só foi possível o
desbaratamento da máfia italiana com a colaboração premiada. A primeira
pessoa que derrubou uma grande organização criminosa, vocês vão lembrar
do nome, foi Tommaso Buscetta", disse.
Buscetta, um dos mais
importantes membros da Cosa Nostra, máfia siciliana, foi preso pela
Polícia Federal em São Paulo, em 1983. Em troca do perdão judicial, fez
acordo de delação com autoridades italianas e apontou dezenas de
criminosos.
Ontem, Janot foi enfático ao defender abrandamento de pena para o colaborador.
Fonte: Diário do Nordeste
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