Professores ficaram indignados diante da decisão da Prefeitura de Juazeiro do Norte de diminuir os salários dos educadores (Foto: Normando Sóracles/Agência Miséria)
Menos de duas semanas após reduzir salário de professores da rede municipal em até 40% alegando falta de verbas, a Prefeitura de Juazeiro do Norte, a 493,4km de Fortaleza, abre amanhã semana de grandes festas no Município. Em ritmo junino, o JuáForró 2013 começa na terça-feira com show do Aviões do Forró e vai até o dia 25 com diversas atrações, entre elas a cantora Elba Ramalho. A festa, que pode ter custos de até R$ 621,1 mil, provocou indignação entre professores do Município.
Para a 13ª edição do evento, foi construída uma cidade cenográfica inspirada no movimento beatista de padre Cícero. Além dos megashows, o JuáForró tem apresentações diárias de grupos de forró pé-de-serra, quadrilhas juninas e shows pirotécnicos. A Prefeitura espera pelo menos 40 mil pessoas na festa.
Evitando relacionar o evento com a recente polêmica envolvendo os professores do Município, a secretária de Cultura e Romarias de Juazeiro, Marli Bezerra, defendeu a realização do JuáForró. “A cultura tem seu próprio fundo, são recursos distintos. E trata-se de uma festa que já é considerada parte da cultura do povo de Juazeiro”, diz.
Marli Bezerra ainda comparou um possível cancelamento da festa com o recente tumulto gerado após rumores de que o programa Bolsa Família chegaria ao fim. “É uma festa tradicional. Se você chegar e dizer que não tem JuáForró, gera tumulto”, disse. A gestão ainda destaca o incremento do comércio local e o avanço de obras de asfaltamento para o evento.
Professores
Os shows do Aviões do Forró e de Elba Ramalho são recebidos, por outro lado, com indignação entre professores do Município. “Recebemos isso indignados, mas também sabemos que a população está vendo. Como é que reduz salário de professor e faz uma festa grandiosa logo após? Com mais de trinta mil sem aulas nas escolas, falta dinheiro para educação, mas tem dinheiro para festa?”, diz Marco Chagas, dirigente do sindicato dos servidores municipais de Juazeiro.
O sindicalista diz que não existe nenhuma iniciativa no sentido de protestar contra a realização do JuáForró, mas afirma que professores deverão “boicotar” o evento. “Não vamos dar atenção. Estamos em greve e temos agenda cheia, inclusive apoiando o movimento de professores em outros municípios, como no Crato”, diz.
Nem a secretária de Cultura nem a assessoria de imprensa da Prefeitura souberam exprimir o valor exato destinado pela Prefeitura ao evento. O orçamento do Município para este ano, no entanto, reserva R$ 1,8 milhões dos cofres públicos para o JuáForró. Dados do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) mostram duas licitações para a festa, somando R$ 621,1 mil - uma em R$ 43,3 mil para exploração do espaço do evento e outra em R$ 577,8 mil para organização geral.
Como
ENTENDA A NOTÍCIA
O orçamento de Juazeiro do Norte para este ano prevê reserva de até R$ 1,8 milhões para a realização do JuáForró 2013. Licitações para a festa abertas até agora, no entanto, somam valor estipulado de R$ 621,1 mil. Caso a Prefeitura peça inexigibilidade ou abra nova licitação, os valores para o evento podem aumentar.
Entenda a polêmica
No último dia 6 de junho, a Câmara Municipal de Juazeiro do Norte aprovou mensagem do prefeito Raimundo Macedo (PMDB) promovendo alterações nos salários dos professores do Município.
Segundo sindicato dos professores de Juazeiro, as mudanças envolveriam o corte de benefícios de insalubridade e uma série de outras gratificações - uma delas o adicional para planejamento de 10% sobre o salário -, que poderiam representar perda de até 40% do valor total dos salários dos professores do Município.
Além disso, o projeto prevê também o aumento de carga horária dos professores municipais e promove corte geral de 10% da gratificação de regência por classe. De 40%, passou a 30% do salário-base.
Em nota, a Prefeitura de Juazeiro disse que promoveu as alterações para garantir “governabilidade da educação com futura melhoria nos indicadores do ensino”.
Segundo a Prefeitura, o valor da folha pessoal com professores municipais extrapola o limite de 60% dos recursos do Fundeb e deixa apenas 13% para investimentos no setor, ao invés dos 40% definidos por lei.
A nota informa ainda que as mudanças não alteram o salário dos professores, tendo apenas incorporado uma gratificação de 10% ao salário base dos profissionais.
Em sua conta, no entanto, a Prefeitura inclui na soma o reajuste obrigatório que a categoria recebeu nacionalmente, de 7,97%.
O POVO
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