No maior simulacro de conflito armado em ares sul-americanos, a Força
Aérea Brasileira (FAB) começa no dia 18 uma megaoperação para treinar seus
pilotos e testar seus equipamentos, em parceria com outros 13 países e buscando
maior prática em um novo desafio: a guerra não convencional.
Cerca de 1,7 mil militares e uma centena de aeronaves serão deslocados
para Natal (RN) por quase duas semanas. A ideia é completar em torno de 1,2 mil
horas-voo até o dia 30 na oitava edição do Exercício Cruzeiro do Sul (Cruzex),
que ocorreu pela primeira vez em 2002, mas não era realizado há cinco anos. A
sucessão de eventos esportivos de grande porte, como a Copa do Mundo e a
Olimpíada do Rio, requeria toda a mobilização da Aeronáutica e só agora o
Cruzex acabou sendo retomado.
Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos, França, Peru e Uruguai vão
participar com militares e aviões. Os americanos e chilenos estão deslocando
seus caças, com um total de 11 unidades do moderno F-16, e os canadenses estão
trazendo dois cargueiros CC-130J.
Bolívia, Índia, Suécia, Reino Unido e Venezuela entram como
observadores. Portugal trará militares de forças especiais. A Alemanha vai
participar com palestrante sobre o uso do poder aéreo em missões de paz da ONU.
O diretor do Cruzex, brigadeiro Luiz Guilherme Silveira de Medeiros,
disse ao Valor que há três desafios no exercício: reforçar a interoperabilidade
das Forças Armadas, aperfeiçoar o intercâmbio técnico e testar a capacidade
logística. “E precisamos fazer isso com 100% de segurança, zero acidente,
cumprindo todas as normas”, afirmou. O Exército e a Marinha do Brasil
participam com o lançamento de paraquedistas.
“O Cruzex permite o intercâmbio de competências operacionais. Além de
estreitar os laços entre países, possibilita agregar conhecimento de outras
nações que possuem experiência em cenários de ação conjunta”, explicou o
brigadeiro Medeiros. No cenário de guerra convencional, cerca de 40 a 50
aeronaves de naturezas distintas decolam em sequência para missões com
objetivos comuns ou complementares.
A novidade deste ano, em relação às edições anteriores do exercício, é o
treinamento em cenários de guerra não convencional – em que o combate é entre
forças insurgentes ou paramilitares, e não entre Estados constituídos,
aumentando o risco de danos colaterais a civis. “Isso exige uma preparação mais
específica.”
De acordo com Medeiros, a motivação é a possibilidade de o Brasil enviar
aeronaves para missões de paz da ONU. As ações em Natal darão aos militares
brasileiros a chance de treinar com estrangeiros que já fizeram esse tipo de
missão no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Valor