O afastamento da presidenta Dilma
Rousseff do cargo, na última semana, não significa o fim do processo de
impeachment, nem o encerramento dos trabalhos no Senado em relação ao
assunto. A Comissão Especial do Impeachment voltará a se reunir nesta
semana, já na condição de Comissão Processante, para começar a definir
os próximos passos da ação contra a presidenta afastada.
Nesta terça-feira (17), o presidente da
comissão, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), e o relator do processo,
senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), se reunirão com o presidente do
Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, e assessores jurídicos,
para tomar conhecimento dos detalhes legais do procedimento a partir de
agora.
Lewandowski assumiu, na última semana, a
condição de presidente do processo contra Dilma, mas quem presidirá os
trabalhos da comissão é Lira. Isso significa que o presidente do STF
passará a ser a última instância recursal, para resolver dúvidas e
questionamentos. Assim, em questões de ordem apresentadas pela base de
apoio a Dilma, por exemplo, caso a resposta de Lira seja negativa, os
senadores poderão recorrer a Lewandowski.
O presidente do Supremo já tem,
inclusive, uma sala reservada no Senado, em caso de haver necessidade de
despachar por lá. No entanto, ele já comunicou que pretende acompanhar
os trabalhos da comissão a distância, de seu gabinete no STF.
Lewandowski também já assinou seu primeiro ato como presidente do
processo, o mandado de citação para que Dilma apresente defesa no prazo
de 20 dias – que começou a contar na última quinta-feira (12).
O ato deu início à nova fase do
processo, que também vai incluir a produção de provas, a tomada de
depoimentos de testemunhas e debates entre defesa e acusação, tudo no
âmbito da Comissão Processante – ela continua com a mesma formação de 21
membros que analisou, na primeira fase, a admissibilidade do processo.
Nesta nova fase, a presidenta afastada
poderá prestar depoimento. Isso dependerá de os membros da comissão
requererem e de ela aceitar. Dilma Rousseff não será obrigada a ir ao
Senado, ela pode apenas ser convidada para prestar esclarecimentos, de
acordo com o ministro Lewandowski. Ela pode ainda responder por escrito
aos questionamentos dos senadores.
Por enquanto, no entanto, ainda não se
sabe se haverá interesse da defesa ou da acusação na presença dela. Os
primeiros requerimentos para a tomada de depoimentos só devem começar a
ser apresentados a partir de quarta-feira (18), quando a comissão deve
se reunir por completo pela primeira vez após a admissibilidade do
processo e definir um plano de trabalho.
De acordo com o presidente Raimundo
Lira, o colegiado terá prazo de 180 dias, enquanto a presidente está
afastada, para concluir os trabalhos. Mas a intenção é que o relatório
esteja pronto para ir ao plenário do Senado antes disso.
“Nós não pretendemos usar os 180 dias
porque isso gera uma expectativa na população brasileira. Por outro
lado, não vamos acelerar, nem encurtar o prazo, a ponto de prejudicar a
ampla defesa da acusada”, explicou.
Ainda de acordo com Lira, não há
previsão de que a comissão funcione de segunda a sexta-feira, como vinha
ocorrendo na fase de admissibilidade. Em princípio, o colegiado deverá
se encontrar nos dias de atividades no Senado, de terça a quinta-feira,
mas isso também deve ser decidido coletivamente a partir desta semana.
Após todas as oitivas e análises de
documentos, o relator deverá fazer um parecer com seu voto, admitindo ou
não o crime de responsabilidade por parte da presidenta da República.
Lewandowski já se manifestou contrário à hipótese de que a comissão e
Anastasia analisem outros fatos estranhos ao que foi acatado pelo
presidente da Câmara quando a denúncia começou a tramitar.
Assim, novos fatos que liguem a
presidenta à Operação Lava Jato, por exemplo, devem ficar de fora do
relatório que será apresentado por Anastasia. Ele deverá se ater às
pedaladas fiscais e à edição de decretos de suplementação orçamentária
irregulares.
Agência Brasil