Do ano passado, somente em restos a pagar de emendas parlamentares – que
podem ser destinadas por deputados federais e senadores a redutos eleitorais –
e novas emendas do Orçamento deste ano são mais de R$ 20 bilhões. Somados
outros R$ 10 bilhões que o governo estima economizar ainda neste ano caso a
reforma da Previdência seja aprovada, e que seriam usados em obras que podem
render dividendos eleitorais aos aliados neste ano, o valor do “arsenal” de
Temer pode superar R$ 30 bilhões.
Na avaliação do Planalto, a reforma é o que falta para a construção de
uma candidatura única de centro e, assim, assegurar a maior parcela de tempo no
rádio e na TV e do fundo eleitoral. Nesta quinta-feira, 18, o Estado mostrou que Temer vai condicionar a
manutenção dos partidos no comando de ministérios ao apoio a um único nome na
disputa pela Presidência na tentativa de isolar o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e o PT.
Temer e seus aliados avaliam que a aprovação da reforma da Previdência
deve gerar mais investimentos na economia e, consequentemente, uma sensação de
melhora que pode resultar em votos. Além disso, teria um caráter simbólico de
coesão dos partidos da base que pode ser levado para a campanha eleitoral.
Além de poder usar os restos a pagar de 2017, o governo tem todo o
potencial de liberação de emendas do Orçamento de 2018 para convencer os
parlamentares. Nas palavras de um auxiliar de Temer, “ano novo, Orçamento
novo”.
Empenho. Dos R$ 10,74 bilhões em emendas empenhadas do ano passado, apenas
R$ 2,27 bilhões foram pagos até dezembro. O restante (R$ 8,47 bilhões) é
enquadrado como restos a pagar que o governo pode executar ao longo deste ano.
No Orçamento de 2018, há mais R$ 11,8 bilhões autorizados para deputados e
senadores. O cálculo leva em conta tanto as emendas que foram apresentadas
individualmente quanto as formuladas pelas bancadas estaduais.
Para atender às demandas dos parlamentares, porém, o governo também terá
de cumprir as restrições impostas pela lei eleitoral, que proíbe a
transferência de recursos da União para Estados e municípios nos três meses que
antecedem a votação. Assim, de julho a setembro o governo só poderá pagar
emendas que forem empenhadas até junho.
Conforme o Estado mostrou no início deste
mês, Temer bateu recorde de liberação de emendas em 2017, ano em que precisou
negociar o apoio de deputados para suspender o andamento de duas denúncias
contra ele. O valor empenhado no ano passado representou um crescimento de 48%
em relação ao ano anterior e 68% maior do que o liberado em 2015, quando a
execução das emendas se tornou obrigatória.
Na avaliação do Planalto, com a proibição de doações eleitorais de
empresas e a consequente redução de verbas para campanha, a máquina
governamental deve ter peso redobrado no pleito deste ano.
As novas regras eleitorais estão no centro da estratégia de Temer. O
Planalto estima que as direções partidárias saem fortalecidas com a criação do
fundo eleitoral, cuja distribuição de verbas vai ficar a cargo dos presidentes
e tesoureiros das legendas. Assim, um deputado rebelde pode ser “punido” com
menos recursos.
ESTADÃO CONTEÚDO