O
Açude Castanhão, o maior do Ceará, está com volume abaixo de 3%, pela
primeira vez desde quando foi concluído, em 2003. Ontem, acumulava
2,94%, ou seja, 196 milhões de m³. Apesar da reduzida quantidade, a
barragem vai continuar liberando, por gravidade, 5,2 m³/s pela válvula
dispersora para atender demandas da Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF) e das cidades do Baixo Jaguaribe até o fim deste mês.
A
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) chegou a colocar,
ontem, no Portal Hidrológico, que o reservatório teria atingido o volume
morto (reserva de água mais profunda, abaixo da tomada de água por
gravidade). Outros 50 reservatórios permanecem nessa situação e 21 estão
secos.
Por
meio de nota, o órgão informou que não há previsão de bombeamento
imediato e que, se a liberação de água por gravidade for interrompida,
outras soluções de abastecimento das cidades do Vale do Baixo Jaguaribe
estão sendo estudadas para evitar o desabastecimento dos moradores.
A
previsão da Cogerh é que a interrupção da liberação de água por
gravidade não ocorra antes da próxima quadra chuvosa (fevereiro a maio).
Por nota, o órgão reforça: "é necessário aguardar o comportamento das
chuvas de 2018 para a adoção de quaisquer medidas".
Para
o coordenador do Complexo do Castanhão, que é administrado pelo
Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), Fernando Pimentel,
a situação é cada dia mais grave. "Por dia, o açude perde de 3 a 4
centímetros em sua coluna de água", frisou. "São liberados diariamente um milhão de
m³".
Polêmica
Há
uma polêmica entre o Dnocs e a Cogerh sobre o volume morto do
Castanhão. Os dois órgãos apresentam dados divergentes. Para o Dnocs, a
ficha técnica aponta a cota 71, que foi alcançada em 29 de outubro
passado, para início do volume morto, indo até a cota 51. Já a Cogerh
entende que o reservatório atinge o volume morto quando a água chegar
abaixo da tomada de água (tubulação de 3m de diâmetro).
Fernando
Pimentel voltou a afirmar: "Segundo a ficha técnica, o Castanhão tem um
volume morto de 250 milhões de m³ e, se na cota atual acumula 196
milhões de m³, já há tempo está no volume morto". Segundo dados do
Dnocs, ainda haveria cerca de 7m de coluna de água até se esgotar a
reserva mais profunda da barragem. Há um ano, acumulava 5,3%, ou seja,
350 milhões de m³. No fim de 2017, o reservatório recebeu transferência
de água do Açude Orós, o segundo maior do Estado, que atualmente está
com 6,5% (126 milhões de m³).
Chuvas
Não houve praticamente recarga de água na quad
ra
chuvosa deste ano. As esperanças estão mais uma vez adiada para 2018.
"Ainda é cedo para uma previsão do próximo período chuvoso", reafirma o
meteorologista da Funceme, Raul Fritz. "Somente em meados de janeiro
próximo teremos uma melhor análise".
Fritz
explicou que, no Oceano Pacífico Equatorial, desde outubro passado,
começou o fenômeno La Niña, esfriamento das águas superficiais. "O La
Niña ainda está fraco, mas deve chegar a moderado e persistir até meados
de março de 2018", observou. "Mas é bom que se diga que, por si só, o
La Niña não garante chuvas e é preciso que o Oceano Atlântico Equatorial
dê a sua contribuição".
A
contribuição é o aquecimento das águas superficiais do Atlântico
Equatorial para atrair a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), uma
extensa massa de nuvens, que é o principal sistema causador de chuvas no
Ceará de fevereiro e maio. "Em 2012, tivemos La Ninã e foi um ano seco.
O Oceano Atlântico tem uma dinâmica, uma mudança de temperatura muito
rápida, que traz dificuldades para as previsões a longo prazo", disse.
Até
31 de dezembro o Castanhão vai continuar operando com 5,2 m³/s. A
preocupação de lideranças locais do médio e baixo Jaguaribe é a partir
de fevereiro, caso não ocorra chuvas para reduzir o risco de colapso.
Diário do Nordeste