Levantamento feito pelo Estado mostra que 215 deputados declaram voto contrário à reforma da Previdência.
Desses, 124 são de partidos da base aliada do governo Michel Temer. Há
divisão sobre o tema mesmo no PMDB e no PTB, os únicos partidos da
coalizão governista que decidiram obrigar suas bancadas a votar a favor
das mudanças na aposentadoria.
A
reforma é a principal aposta da equipe econômica para garantir a
retomada do crescimento. O governo, no entanto, encontra dificuldades
para conseguir os 308 votos necessários à aprovação do texto. Com 205
votos contrários, do total de 513 deputados, a proposta de emenda à
Constituição (PEC) seria rejeitada.
No
PMDB de Temer, dez dos 60 deputados disseram que são contrários à
proposta e 15 mostraram-se indecisos. Apenas 12 afirmaram ser favoráveis
ao texto. Os desobedientes estão sujeitos a penas que vão da
advertência a punições mais sérias. "Teremos uma semana de muito
trabalho na busca de votos, mas sou otimista", afirmou o líder do PMDB
na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP).
Para
ele, as opiniões obtidas no levantamento do Estado refletem posições
anteriores às mudanças patrocinadas pelo governo na proposta original.
"Os deputados do Nordeste que são contrários à reforma, por exemplo,
ficarão a favor quando tiverem a certeza de que os trabalhadores rurais
não serão atingidos", disse. "Mas isso só ocorrerá quando todos tiverem
na mão o texto que vai para o plenário."
Nas
fileiras do PSDB, 12 dos 46 parlamentares são contra mexer no sistema
da Previdência, dez mostraram-se indecisos e 16 não quiseram responder. Apenas 6 afirmaram ser a favor das mudanças.
"O governo teve uma falha grande na comunicação", disse o líder do PSDB
na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP). "Pelas nossas contas, teremos
quase 50% da bancada, mas é preciso ver os outros partidos aliados
também. Não dá para jogar tudo no colo do PSDB."
O
presidente do PTB, Roberto Jefferson, comparou o discurso contra a
reforma da Previdência a uma manifestação do ex-procurador-geral da
República Rodrigo Janot. "Não vamos aceitar esse discurso de Janot, que
tem a intenção de prejudicar o governo", disse o ex-deputado, tentando
amenizar os votos contrários na bancada do PTB. "Só dois votos não
consigo reverter. Mas fizemos tudo certo até agora. A reforma da
Previdência faz parte do tripé de sustentação da economia, também
composto pelo teto de gastos e mudanças trabalhistas", completou
Jefferson.
Para
o líder da bancada do PP, deputado Arthur Lira (PB), é preciso mais
mobilização do Palácio do Planalto para garantir a votação da reforma
ainda neste ano. Lira elogiou a substituição do ministro da Secretaria
de Governo, Antônio Imbassahy (PSDB), por Carlos Marun (PMDB-MS),
anunciada ontem. "Até agora não havia articulação política", criticou.
ESTADÃO