O empresário Paulo Roberto Gazani Júnior afirmou, em
delação, que até uma igreja foi utilizada para mascarar suposto pagamento de
propina para o ex-presidente do Postalis Alexej Predtchensky.
A delação foi
anexada às investigações da Operação Greenfield, que apura irregularidades em
fundos de pensão. As fraudes alvo da Greenfield chegam a R$ 53,8 bilhões, segundo a Polícia Federal.
Conforme Gazani foram repassados R$ 715 mil a Predtechensky por meio de uma falsa
doação para a Associação Religiosa Igreja da Suprema Graça.
A operação para o pagamento foi organizada a partir de
um negócio envolvendo o Banco Cruzeiro do Sul, que teve sua falência decretada
em 2012. Gazani havia auxiliado o banco a estruturar um Fundo de Investimento
em Direitos Creditórios, com o objetivo de vender seus créditos consignados ao
Postalis.
A propina, neste caso, teria sido acertada entre o
delator e o próprio Predtechensky, na sala da presidência do Postalis, em
Brasília. O valor definido na negociação representava 1,5% de comissão sobre o
investimento a ser feito pelo fundo de pensão no banco que viria a falir.
A forma de pagamento foi negociada com outro
intermediário, identificado como Marcos Glikas. Foi este contato quem indicou
que a propina seria paga por meio de uma doação à Igreja da Suprema Graça.
Glikas já foi alvo de duas grandes ações da PF. Em 2015,
na Operação Porto Victoria, foi investigado por
movimentação de cerca de R$ 3 bilhões em
transações fictícias de comércio exterior e fuga de capitais da Venezuela. Em
2004, Glikas foi preso na Operação Kimberley contra contrabandistas de pedras
preciosas do Brasil.
Transferências. De acordo
com Gazani, os valores foram transferidos entre junho e julho de 2011 por meio
de duas Transferências Eletrônicas Disponíveis (TEDs). A instituição religiosa
chegou a oferecer até um recibo ao delator como prova da transferência. O
comprovante está com investigadores.
Na internet, a Igreja da Suprema Graça aparece como uma
instituição comandada pelo reverendo Daniel Augusto Maddalena, e teria sido
inaugurada em setembro de 2008.
“Somos uma igreja moderna, operando de forma
independente, trabalhando em todo o País, através de projetos junto às outras
igrejas, comunidades e instituições”, resume a entidade em seu endereço na
internet.
A reportagem não localizou o reverendo Maddalena ou
integrante da instituição para comentar o caso. Marcos Glikas e a administração
da massa falida do Banco Cruzeiro do Sul também não foram encontrados.
ESTADÃO