O
PT elegeu neste sábado (3) a senadora Gleisi Hoffmann (PR) como nova
presidente da legenda. A eleição ocorreu durante a convenção nacional da
sigla em Brasília. A parlamentar, que era a favorita na disputa,
substituirá Rui Falcão. É a primeira vez que o partido tem uma mulher na
presidência.
Apoiada
pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) – da qual faz parte o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Gleisi foi eleita por 367
(61%) dos 593 votos. Ela disputou o cargo com o senador Lindbergh Farias
(RJ), que recebeu 226 votos (38%), e o militante José de Oliveira, que
não recebeu votos.
A
CNB também foi vitoriosa na eleição entre as chapas, pleito que ocorre
separado da eleição do presidente. Com a maioria dos votos, a corrente
poderá indicar mais adeptos aos demais cargos da diretoria do partido.
Gleisi
deverá liderar o partido por um mandato de dois anos. O principal
desafio é de conduzir a agenda política do principal partido de oposição
no país, que perdeu força após escândalos de corrupção revelados pela
operação Lava Jato.
A nova presidente da sigla, inclusive, responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ré na Lava Jato, Gleisi é acusada de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro por pedir e receber, segundo o Ministério Público, R$ 1 milhão
desviados do esquema na Petrobras.
Gleisi também foi citada por três delatores da Odebrecht. Eles relataram pagamentos feitos a pedido do marido dela, Paulo Bernardo, quando ele era ministro dos governos Dilma e Lula.
Os
recursos teriam abastecido as campanhas de Gleisi para a prefeitura de
Curitiba em 2008; para o Senado em 2010; e para o governo do Paraná em
2014. Ela é alvo de um inquérito a partir das delações da Odebrecht. A
parlamentar nega as acusações.
Na
Suprema Corte, ela também responde a outro inquérito. A investigação
não faz parte da Lava Jato e apura o envolvimento da senadora em
irregularidades em contratos do Ministério do Planejamento com empresa
de gestão de empréstimos consignados.
‘Não nos açoitamos’
Em
discurso, Gleisi falou sobre as críticas, feitas durante a convenção, à
decisão do PT de destacar os êxitos sem reconhecer os erros. “Nós não
somos uma organização religiosa, não fazemos profissão de culpa nem
tampouco nos açoitamos”, declarou.
“Não
vamos ficar apontando nossos erros para que a burguesia e a direita se
aproveitem disso. Nós reconhecemos nossos erros na prática”, disse a
nova presidente do PT. “Mas não teve, na história de 500 anos de país,
governos melhores que os do PT”.
Gleisi
defendeu um tripé de propostas para encaminhar a agenda do PT: a
regulação da mídia e reformas tributária e no sistema Judiciário. “A
aristocracia domina o poder público e articula com as elites,
representadas pelo poder Judiciário”, criticou.
A
senadora saiu em defesa de Lula como forma de unificar o partido.
Gleisi também sustentou a necessidade de o PT voltar a dialogar com os
movimentos sociais, em especial aos grupos jovem, negro e feminino.
“[Durante
os governos do PT] ficamos numa relação mais institucional que política
com os movimentos sociais. E faltou uma entrada política com os
movimentos. Agora é o momento de reaproximação com as nossas bases”,
afirmou.
Concorrentes
Os
adversários da senadora representavam vertentes mais à esquerda dentro
do espectro ideológico da legenda. A chapa de José de Oliveira cobrava
uma autocrítica mais profunda. A de Lindbergh apostava em mudanças nas
alianças políticas da legenda.
O
senador derrotado disse que decidiu concorrer à presidência do PT
quando a legenda apoiou a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência
da Câmara e a de Eunício Oliveira (PMDB-CE) à do Senado. Ambos compõem a
base do governo Temer.
“Eu
vi um distanciamento da realidade. É como se a nossa direção não
tivesse entendendo o que está acontecendo no país. Depois do golpe,
alguém [do PT] pensar em apoiar Rodrigo Maia e Eunício Oliveira”,
afirmou.
‘Meninice’ de procuradores
Após a confirmação de que Gleisi havia ganhado a eleição, Lula subiu ao palco para manifestar apoio à nova gestão.
Em
discurso, o ex-presidente comentou o pedido de prisão contra ele feito
pelo Ministério Público Federal na sexta (2) ao juiz Sérgio Moro e
classificou de “meninices” as ações dos procuradores da Lava Jato.
“Não
tenho nada contra o Ministério Público, que inclusive ajudei a
fortalecer. O que eu tenho é contra as meninices dos procuradores da
Lava Jato”, declarou Lula aos correligionários na convenção.
O
ex-presidente reafirmou a intenção de sair candidato nas próximas
eleições. “Quanto mais atacam o PT, mais ficamos fortes”, afirmou o
petista, arrancando aplausos e gritos de “Lula presidente” da plateia.
Militantes de alas divergentes do PT trocam empurrões durante congresso que elegeu presidente da legenda.
Briga de militantes
Durante
a defesa das chapas concorrentes, militantes de alas divergentes
trocaram agressões após uma declaração do ex-ministro da Saúde Alexandre
Padilha.
“Não
somos aqueles que só tem orgulho de ser PT nos tempos bons”, afirmou
Padilha, em defesa à chapa de Gleisi e criticando a ala mais à esquerda.
Após
a fala, Padilha foi vaiado e o clima esquentou entre os delegados. Dois
militantes discutiram e chegaram a se agredir, mas foram apartados
pelos demais aos gritos de “respeito”.