As picadas de mosquitos não provocam apenas coceira, inchaço e
irritação: elas também ajudam os vírus da zika e da dengue a se
multiplicarem, de acordo com um novo estudo liderado por cientistas
britânicos.
Segundo os autores da pesquisa, a inflamação no local
da picada pode ser um fator importante para explicar por que a dengue e
a zika são assintomáticas em algumas pessoas e, em outras, tornam-se
doenças graves, provocando hemorragias, má-formação e morte.
A
pesquisa, liderada por Clive McKimmie, da Universidade de Leeds (Reino
Unido), foi publicada nesta terça-feira, 21, na Immunity, revista
científica do grupo Cell. Os pesquisadores agora querem descobrir se o
uso de cremes anti-inflamatórios no local da picada do mosquito pode
impedir a evolução da infecção.
Até agora, cientistas acreditavam
que as diferenças observadas no grau de severidade de doenças como a
dengue e a zika deveriam ser determinadas por variações genéticas nos
vírus, ou nos pacientes. Mas, com inúmeros estudos sendo feitos em um
esforço mundial para deter a epidemia de zika, vários resultados sugerem
que o Aedes aegypti está diretamente envolvido na severidade das
doenças.
Na última quinta-feira, outra pesquisa feita por
cientistas dos Estados Unidos e Bélgica mostrou que a saliva do Aedes
aegypti torna os vasos sanguíneos mais permeáveis, acelerando o
alastramento do vírus.
Agora, os cientistas britânicos deram um
novo passo ao mostrar que, com a introdução da saliva, a inflamação no
local da picada também ajuda a replicação dos vírus, resultando em
infecção mais severa
"Agora queremos estudar se medicamentos como
cremes anti-inflamatórios podem impedir que o vírus estabeleça a
infecção se forem utilizados com rapidez suficiente depois que aparece a
inflamação produzida pela picada", afirmou o cientista.
Teste em ratos
O
estudo foi feito em camundongos. Segundo McKimmie, a saliva do
mosquito, injetada na pele do animal no momento da picada, desencadeia
uma resposta imunológica, atraindo certos glóbulos brancos (células de
defesa do organismo) para o local da picada. Mas, em vez de ajudar a
destruir os vírus, algumas dessas células de defesa são infectadas e
acabam ajudando a replicá-los.
A equipe injetou diferentes vírus
na pele de camundongos, com e sem a presença da picada de mosquito no
local da injeção, para comparar as reações. Sem a picada do mosquito - e
sem a inflamação que ela desencadeia -, os vírus não conseguiam se
replicar muito bem. Já na presença da picada, foi observada uma alta
taxa de replicação do vírus ainda na pele.
"Isso foi uma grande
surpresa. Esses vírus não são conhecidos por infectar células do sistema
imune. Além disso, quando nós fizemos com que essas células imunes
parassem de se dirigir para o local da picada, a picada do mosquito
parava de aumentar a infecção", afirmou McKimmie.
Fonte: Estadão Conteúdo
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