A reportagem da BBC que revelou que João Paulo II teria mantido uma
intensa relação com uma filósofa americana casada, mesmo sem quebrar seu
voto de castidade, parece "piada de Dia dos Namorados", ironizou nesta
terça-feira o diretor da Biblioteca Nacional da Polônia.
"É uma
brincadeira, não é algo sério", declarou Tomasz Makowski, diretor dos
arquivos onde as cartas que revelariam o caso foram encontradas.
Depois
de ler as 350 cartas, Tomasz Makowski afirma que o documentário da TV
britânica brinca com uma certa ambiguidade dos textos. "Dizem que o Papa
não violou o celibato, mas sugerem exatamente o contrário", destaca.
Makowski
explica que as fotos exibidas pela BBC, que mostram Karol Wojtyla e
Anna Teresa Tymieniecka, dão a impressão de que estão sozinhos, quando,
na realidade, foram tiradas em uma excursão na qual havia mais pessoas.
O
acadêmico argumenta que as expressões interpretadas como sinais de
ternura, como "você é um presente dos céus", eram coisas que o pontífice
usava frequentemente em sua correspondência. "Quem não sabe isso tira
conclusões que não têm relação com a realidade", afirmou.
Makowski
disse ainda que João Paulo II não tinha medo de ter contato com
mulheres, fossem laicas ou religiosas, e assinalou que em uma das cartas
dirigidas a sua amiga, Wojtyla termina o texto abençoando o marido e os
filhos dela.
"É preciso recordar que na década de 1970, a
polícia polonesa tinha microfones em todos os lugares, seguia de perto
os bispos. Eles não saberiam o que depois foi descoberto por um
jornalista britânico?", questiona.
Programa de TV
Na
véspera, o jornalista Edward Stourton revelou no programa Panorama, da
BBC, ter descoberto uma correspondência que mostraria que João Paulo II
manteve durante mais de 30 anos uma amizade intensa com Anna Teresa
Tymieniecka.
"As cartas são a janela mais extraordinária sobre a
vida privada de uma das pessoas mais célebres da História", afirmou o
jornalista.
Mais de 350 cartas escritas por João Paulo II à
americana de origem polonesa Anna Teresa Tymieniecka foram encontradas
na Biblioteca Nacional polonesa, à qual a filósofa tinha legado em 2008.
Segundo o programa, as cartas em questão dariam a entender que a universitária estava apaixonada pelo cardeal Wojtyla.
"Não
há nada de extraordinário no fato de João Paulo II ter tido amizades
estreitas com diferentes pessoas, sejam homens ou mulheres", reagiu o
Vaticano. "Ninguém se dirá surpreso com esta informação", acrescentou.
A Biblioteca Nacional polonesa também não demorou a reagir e negou a possibilidade de existência de uma relação amorosa.
"As
teses formuladas pelos meios de comunicação não têm confirmação alguma
nas cartas de João Paulo II a Anna Teresa Tymieniecka, que fazem parte
do acervo da Biblioteca Nacional", declarou a instituição em um
comunicado.
"Essa relação era amplamente conhecida e descrita em
inúmeras publicações", insiste a BN polonesa. "João Paulo II estava
cercado por um círculo de amigos eclesiásticos e laicos, com os quais
mantinha um estreito contato. Este círculo também incluía Anna Teresa
Tymieniecka, mas a relação com ela não era nem confidencial nem
excepcional", conclui o comunicado.
´Presente dos céus´
"Querida
Teresa, recebi as três cartas. Você escreve que está dilacerada, mas
não pude encontrar nenhuma resposta para as suas palavras", escreve o
futuro João Paulo II em uma carta datada em 1976, na qual a descreve
como "um presente dos céus".
"Eram mais que amigos, mas menos que
amantes", afirma Stourton, que insiste que não encontrou nas cartas
nenhuma prova de que João Paulo II tenha rompido o voto de castidade.
A
primeira carta está datada em 1973, ano do encontro entre Anna Teresa
Tymieniecka e Karol Wojtyla, futuro João Paulo II, e a última
correspondência foi escrita meses antes da morte do então Papa, ocorrida
em 2 de abril de 2005.
Segundo Adam Boniecki, um sacerdote
polonês que conheceu bem João Paulo II, é possível que a universitária
americana Anna Tymieniecka estivesse apaixonada por Karol Wojtyla antes
que ele se tornasse Papa.
"Algumas mulheres acabam se apaixonando
pelos sacerdotes, isso sempre cria um problema", declarou à AFP o padre
Boniecki, que dirigiu durante anos, em Roma, a edição polonesa do
jornal vaticano Osservatore Romano.
Fonte:g1
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