O técnico Luiz Felipe Scolari avisava, antes mesmo da Copa do Mundo, que não gostaria de enfrentar o Chile no mata-mata. A preocupação foi justificada no início da tarde deste sábado, no Mineirão. A Seleção Brasileira só superou o rival sul-americano por 3 a 2 na disputa de pênaltis após um empate por 1 a 1 no tempo regulamentar da partida. O goleiro Júlio César, o vilão do Mundial passado, defendeu as cobranças de Pinilla, Alexis Sánchez e Díaz. Pelo Brasil, Willian chutou para fora e Hulk desperdiçou, mas David Luiz, Marcelo e Neymar converteram.
O jogo –Nem parecia que os jogadores brasileiros e chilenos eram adversários no túnel de acesso ao gramado do Mineirão. Companheiros de Barcelona, os atacantes Neymar e Alexis Sánchez se abraçaram e conversaram amistosamente, com sorrisos e afagos, à espera de a partida começar. O lateral direito Daniel Alves fez questão de se juntar aos dois.
Em campo, tudo mudou. As hostilidades entre brasileiros e chilenos começaram nas arquibancadas, com vaias para trechos das execuções dos hinos nacionais dos dois países. E continuaram já nos primeiros minutos de jogo, quando Fernandinho cometeu uma falta dura em Aránguiz, que revidou em Neymar.
O Chile tentou aproveitar aquela empolgação inicial para atacar o Brasil. A iniciativa durou pouco. Depois que Marcelo deu um bom chute de fora da área, que quase acertou a meta aos cinco minutos, os donos da casa passaram a controlar as ações da partida. Principalmente pelo lado esquerdo, onde Neymar e Hulk se revezavam nas arrancadas em velocidade.
O Brasil era mais perigoso, contudo, nas jogadas de bola parada. Foi assim que abriu o placar. Aos 18 minutos, Neymar cobrou escanteio na área do Chile. A dupla de zaga brasileira, então, aproveitou a baixa estatura adversária para aparecer com destaque. Thiago Silva desviou o cruzamento com a cabeça, e David Luiz disputou com a coxa com Jara para empurrar a bola para dentro.
Com a vantagem no placar, o Brasil se sentiu confortável para permanecer no setor ofensivo, envolvendo o Chile – apesar de Oscar, Daniel Alves e quem mais que atuasse pela direita participarem pouco da partida. Só um erro do time de Luiz Felipe Scolari seria capaz de reanimar os chilenos naquele momento. E foi o que aconteceu.
Aos 32 minutos, Marcelo cobrou um lateral no campo de defesa para Hulk, que dominou de maneira desatenta. Vargas tirou proveito para fazer o desarme e acionar Alexis Sánchez dentro da área. O amigo de Neymar e Daniel Alves dominou com tranquilidade e finalizou cruzado, sem tanta força, para superar Júlio César e empatar o jogo.
O gol do Chile silenciou momentaneamente a torcida brasileira e entusiasmou a visitante. No gramado, os jogadores chilenos redobraram a rispidez nas disputas de bola e motivaram Neymar a fazer acrobacias a cada falta sofrida, para irritação de Felipão com a arbitragem. Nem mesmo a pressão que o Brasil esboçou no final do primeiro tempo foi suficiente para acalmar o treinador.
Aos 35, Neymar quase marcou um gol de cabeça em cruzamento de Oscar, que desviou na defesa chilena. Três minutos depois, o astro brasileiro recebeu um lançamento longo, brigou com três marcadores, e a bola sobrou para Fred concluir para o alto. Daniel Alves também perdeu a timidez e chutou de longe, fazendo Bravo espalmar para cima do travessão. Na defesa, no entanto, a Seleção dava novos sinais de desatenção.
Os sustos sofridos no primeiro tempo claramente incomodaram os comandados de Felipão. Neymar chutou a bola para longe quando a partida foi para o intervalo. No vestiário, o astro deixou de lado as chuteiras douradas e milionárias que ganhou de sua fornecedora de material esportivo para calçar o mesmo modelo utilizado na fase de grupos da Copa do Mundo. Felipão, entretanto, esperou para mexer na sua formação.
O posicionamento do Brasil foi outro no segundo tempo. Percebendo que o seu time era deficiente no lado direito do ataque, Felipão mandou Hulk atuar mais por ali. Aos nove minutos, a ordem quase acabou premiada com um gol. O atacante dominou a bola com o braço e bateu de joelho para a rede, porém o árbitro inglês Howard Webb viu a irregularidade e interrompeu a festa que os brasileiros já faziam. “Vá tomar no...”, berrou o jogador, revoltado.
Jorge Sampaoli, o técnico argentino do Chile, resolveu entrar em ação naquele instante. Substituiu Vargas por Gutiérrez. Felipão não ficou atrás. Escolheu Jô, atuando em casa por ser atleta do Atlético-MG, para ocupar a vaga de Fred, mineiro de Teófilo Otoni e ex-jogador do Cruzeiro. A torcida até se alegrou com a mudança, embora tenha levado um susto em seguida. Aos 18, Aránguiz bateu forte após cruzamento rasteiro da direita, e Júlio César fez grande defesa para salvar o Brasil.
Muito nervosa, a Seleção começou a oferecer cada vez mais espaços para o Chile atacar. Felipão ainda recorreu a Ramires no lugar de Fernandinho, que mancava em campo. Outros jogadores também pareciam com problemas, porém técnicos, como Daniel Alves. Jô foi mais um a falhar, aos 28 minutos, quando furou um cruzamento de Hulk e enervou Felipão.
Alguns torcedores até tentaram fazer com que a apatia da Seleção Brasileira não se refletisse nas arquibancadas do Mineirão. “Levanta! Levanta! Levanta!”, berraram, para aqueles que estavam sentados, inertes. A maioria só se levantou mesmo aos 38, com uma boa jogada de Hulk, que parou em Bravo. De fato, as razões para contentamento eram poucas. Os atletas brasileiros aparentaram alívio com o fim do segundo tempo.
A ordem era mudar de postura completamente na prorrogação. Hulk demonstrou que queria que fosse assim ao correr o campo inteiro com a bola em sua primeira jogada, ser derrubado perto da área e brandir os braços para chamar o público para o jogo. A torcida correspondeu, porém os seus companheiros já não tinham o mesmo vigor físico àquela altura do jogo.
No último tempo da partida com bola rolando, Felipão optou por dar fôlego à equipe brasileira com Willian no posto de Oscar. O Chile, também desgastado, já queria os pênaltis. Medel se jogou em campo e só foi substituído por Rojas depois que a maca entrou para retirá-lo. Em seguida, Pinilla e Gutiérrez ficaram caídos pelo tempo que puderam. “Timinho! Timinho! Timinho!”, reagiram os torcedores.
Quem tinha a missão de não se apequenar no Mineirão era a Seleção Brasileira. O drama já fazia o público ter de mostrar a sua crença aos jogadores antes da decisão por pênaltis: “Eu acredito! Eu acredito! Eu acredito!”. Era mesmo necessário ter fé. Aos 15 minutos, Pinilla dominou bem a bola, girou diante de Thiago Silva e soltou o pé. Só não virou o jogo para o Chile naquele mesmo instante porque acertou o travessão.
A tensão era tamanha que Júlio César chorou antes da disputa de pênaltis. Parecia prever que seria decisivo, defendendo as cobranças de Aránguiz, Díaz e Jara, tendo a sua grande redenção em uma Copa do Mundo. Pelo Brasil, Willian e Hulk desperdiçaram, porém David Luiz, Marcelo e Neymar converteram para sacramentar a suada classificação.
- Gazeta Esportiva.Net
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