A presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos, a procuradora regional da República Eugênia Gonzaga, disse ontem (11)
que o Brasil ainda não “passou a limpo” o período da ditadura militar no país,
que vigorou entre 1964 e 1985. Ao comentar o documento confidencial da CIA
(Serviço de Inteligência dos Estados Unidos) que revela que o ex-presidente
Ernesto Geisel (1974-1979) autorizou a execução sumária de militantes
opositores ao regime, ela disse também que o país ainda vive em “total negação”
do período. “Tudo isso é dolorido e ao mesmo tempo vergonhoso, porque demonstra
que o país não passou a limpo esse período. A gente ainda vive em uma situação
de total negação desse período, de ocultação”, disse Eugênia.
“É uma
comprovação bastante forte que a tortura, a política de terrorismo de estado,
era realmente autorizada pelo mais alto escalão, não era simplesmente um
exagero da ‘turma do porão’, como eles chamam os agentes da repressão”, disse a
procuradora. “São provas importantes de que realmente havia uma política de
Estado de exterminação dessas possíveis oposições, uma política de também
acobertar a verdade do período. Por exemplo, a morte do delegado Sérgio Fleury
não é explicada até hoje, mas nitidamente ali é uma queima de arquivo. Então
temos, no período do general Geisel, uma prova de que ele realmente autorizava
que essas pessoas emblemáticas fossem exterminadas”, acrescentou.
A procuradora
conta que a revelação do documento da CIA comprova a tese da Comissão Especial
sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e dos próprios familiares, o que não é
possível ser comprovado a partir de documentos do governo brasileiro, pois
estes foram destruídos: “Os arquivos brasileiros foram destruídos ou estão sob
a guarda de particulares que não revelam. O que temos são depoimentos e a
estratégia do Exército que demonstra que os agentes não agem sob vontade
própria, sempre agem por um comando superior.”
Agência Brasil