Dados preliminares do Censo Escolar de 2012, divulgados pelo Ministério da Educação
na quinta-feira (6), mostram que a sequência de queda não deve ser
revertida neste ano. O levantamento mais recente registrou 3.295.678
matrículas nas redes estaduais e municipais --que possuem a maior parte
dos alunos. Eles não levam em conta as matrículas em cursos
semipresenciais e nas redes federal e privada.
De acordo com o Ministério da Educação, esse dado é preliminar e
parcial e não pode servir como base para análises, pois ainda será
validado pelos gestores escolares nos próximos 30 dias. O MEC afirmou
que só comenta os dados finais do Censo Escolar. Eles costumam ser
divulgados todos os anos no mês de dezembro.
Desde pelo menos 2009, os dados preliminares e finais do Censo Escolar
referentes apenas às turmas presenciais das redes estaduais e
municipais, no caso da EJA, tiveram uma variação para cima de entre 1% e
2,5%. Nas últimas três edições finalizadas, as matrículas caíram de
3.917.785 em 2009 para 3.642.513 em 2010 e 3.434.566 em 2011.
O número total de adultos matriculados no sistema educacional
atualmente é de pouco mais de 5 milhões. De acordo com o Censo Escolar
de 2011, 4.046.169 matrículas foram registradas em todas as redes de EJA
no ano passado, e, segundo dados do MEC de julho deste ano, 1.167.113
de brasileiros participavam do Programa Brasil Alfabetizado. A soma das
duas modalidades equivale a 9,57% da população considerada o
"público-alvo" dos programas em 2010.
O número pode ser ainda menor, já que a rede também atende jovens entre 18 e 25 anos e, cada vez menos, até de 15 a 17 anos.
MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS* | |||||
---|---|---|---|---|---|
2002 | 4.734.117 | ||||
2003 | 5.432.813 | ||||
2004 | 5.718.061 | ||||
2005 | 5.615.409 | ||||
2006 | 5.616.291 | ||||
2007 | 4.985.338 | ||||
2008 | 4.945.424 | ||||
2009 | 4.661.332 | ||||
2010 | 4.287.234 | ||||
2011 | 4.046.169 | ||||
*Inclui as modalidades presencial e semipresencial, todas as redes de ensino e cursos preparatórios Fonte: Censo Escolar (MEC/Inep) |
Queda contínua e fechamento de turmas
As 4.046.169 matrículas em todas as turmas de EJA do país no ano passado mantiveram o Brasil em uma sequência de cinco quedas consecutivas.
As 4.046.169 matrículas em todas as turmas de EJA do país no ano passado mantiveram o Brasil em uma sequência de cinco quedas consecutivas.
Embora o aumento contínuo da rigorosidade metodológica do Censo Escolar
seja um dos fatores para a queda no número de matrículas em
praticamente todas as modalidades de ensino --com exceção das turmas de
educação infantil e educação especial--, os dados sobre o número de
salas de aulas e turmas de EJA pelo Brasil demonstram que há cada vez
mais opções para os brasileiros que não tiveram acesso à educação na
idade certa e que desejam voltar à escola.
Em 2007, o país tinha 166.254 turmas de educação de jovens e adultos
nas redes municipais e estaduais. No Censo Escolar de 2011, eram
147.361, o que representa uma queda de 18,9%. Apenas oito dos 26 estados
aumentaram sua rede nas esferas municipais e estadual. Em outras três, o
número permaneceu quase igual. Nos demais 15 estados e no Distrito
Federal, houve queda na quantidade de turmas para adultos.
São Paulo foi o estado que mais fechou salas: 38% das 26.003 turmas
desapareceram em cinco anos (na rede estadual, 41% das turmas foram
fechadas). Paraná tinha 37,1% turmas a menos em 2011 que em 2007,
seguida do Tocantins, com queda de 37%.
Dentro do Ministério da Educação, o ensino de pessoas fora da idade
certa é de responsabilidade de uma diretoria específica na Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. O MEC
realiza o Programa Brasil Alfabetizado em parceria com os governos
estaduais, distrital e municipais.
Neste ano, dados do ministério mostram que menos de 10% do total da
população analfabeta apontada pelo Censo 2010 do IBGE era atendida pelo
programa. Já a EJA recebe recursos do governo federal, mas é gerenciada
com autonomia pelos governos e prefeituras. Uma minoria das matrículas
está na rede pública federal e na rede privada.
Investimento pouco atraente
Segundo Roberto Catelli, coordenador do Programa EJA da organização não-governamental Ação Educativa, os resultados negativos têm muitas causas. "É uma multiplicidade de fatores, se não investir de fato em entendê-los é difícil reverter a queda", afirmou ele ao G1, que listou como motivos a falta de flexibilidade de horários e currículos para que os adultos, que têm outras prioridades, como família e emprego, possam voltar às aulas e, mais importante, permanecer nelas.
Segundo Roberto Catelli, coordenador do Programa EJA da organização não-governamental Ação Educativa, os resultados negativos têm muitas causas. "É uma multiplicidade de fatores, se não investir de fato em entendê-los é difícil reverter a queda", afirmou ele ao G1, que listou como motivos a falta de flexibilidade de horários e currículos para que os adultos, que têm outras prioridades, como família e emprego, possam voltar às aulas e, mais importante, permanecer nelas.
O especialista afirma ainda que falta indicadores mais precisos,
principalmente sobre a questão da permanência dos alunos nessas turmas.
Em nota divulgada em julho, o MEC afirmou que não coleta dados sobre
evasão nessa modalidade de ensino.
Recuperar adultos que não receberam instrução quando crianças é não é
tarefa simples, afirma Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e
pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets). "É
muito difícil você recuperar uma pessoa que chegou aos 40 anos
analfabeta, que ainda está fazendo o fundamental. Ela nunca usou a
leitura na vida, a matemática, é difícil fazer disso uma coisa que ela
vai incorporar na vida", diz.
Trecho do material didático usado nas turmas de
EJA (Foto: Reprodução)
O pesquisador defende investir em outras faixas etárias. "O
investimento público mais importante tem que ser justamente quando a
pessoa é mais jovem, é aí que você pode ter mais retorno."
Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
afirma que o Brasil tem estruturas como os sistemas de saúde e
assistência social que podem ser usadas para atrair as parcelas da
população adulta sem instrução às escolas, mas falta apoio do poder
público.
"As gerações que eram crianças a partir dos anos 1990 tinham mais
oportunidade de acesso à escola porque mais escolas estavam sendo
construídas. O desafio para superar aquilo que falta às gerações
anteriores é fazer a busca ativa, uma política de ajuste fino. O Brasil
já tem bastante ferramenta de gestão que facilita esse trabalho, mas
precisa de vontade política."
Essa vontade, segundo ele, variou muito nas últimas gestões da
educação. Porém, a falta de investimentos na educação infantil é muito
mais cobrada, tanto pelos órgãos fiscalizadores quanto pela sociedade,
do que o ensino das gerações mais velhas.
"Tem gente que diz que não adianta investir em EJA porque a pessoa vai
morrer. Além de ser um aspecto de desrespeito ao cidadão, porque esse é
um direito dele, é falta de conhecimento sobre a realidade das pessoas
mais pobres. O fato de ela ter educação, mesmo que tardia, garante um
enorme ganho de sobrevivência, qualidade de vida e desenvolvimento
econômico", afirma ele.
*G1
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