O número
de eleitores aptos a votar nas eleições de outubro deste ano no Rio Grande do
Norte segue na contramão do país. Enquanto o eleitorado nacional
teve um incremento de 4,43%, o potiguar é 2% menor, ou seja, 46,8 mil a menos,
na comparação com o total de votantes habilitados nas eleições de 2012. São
2.302.448 eleitores hoje ante os 2.349.281 em condições de participar do pleito
anterior. Em Natal, a redução é um pouco maior: 4,57%, cerca de 24 mil pessoas
não estariam habilitadas. O número de eleitores em Natal soma pouco mais de 500
mil.
Os dados são do último levantamento feito pelo Tribunal Regional
Eleitoral do Estado (TRE/RN), a pedido da TRIBUNA DO NORTE, após a conclusão do
processo de cadastramento encerrado no último dia 7 de maio. Contudo, os dados
consolidados só serão divulgados pelo TRE/RN no final de junho e devem
apresentar baixa variação, de acordo com o Tribunal.
O
estatístico Mardone França avalia que a repercussão no pleito de outubro só
pode ser apreciada sob o prisma quantitativo, haja vista que o perfil
social, econômico e cultural dos eleitores “arredios” ainda não foi divulgado
pelo TRE. “O impacto não será tão significativo, que possa prejudicar a
representatividade politica”, analisa Mardone.
Outro
dado que chama atenção é a estimativa de títulos cancelados esse ano, que
poderá chegar a 75 mil, segundo a Justiça Eleitoral. Várias razões podem
incorrer para o índice, observa o estatístico Mardone França, que vão desde a
dispensa da população idosa, como também jovens com 16 e 17 anos que
estejam decepcionados com a politica e reagem dessa forma.
É preciso
considerar também, analisa o representante do Comitê da OAB/RN, Edilson França,
“que a revisão biométrica, efetivamente, erradicou a dupla inscrição e outra
qualquer forma de fraude dentro desse campo”, destaca ele.
Em Natal,
o número de eleitores a menos (24 mil) também poderia decidir as eleições. Dos
29 parlamentares eleitos para o Legislativo Municipal, apenas um obteve mais de
24 mil votos, a vereadora Amanda Gurgel (PSTU), que contabilizou 32.819 votos.
O segundo mais votado teve 9,5 mil.
Em
algumas zonas eleitorais da capital, a 4ª e 69ª, se percebe queda de 5% entre o
número de votantes que fizeram a revisão biométrica 2014 e os aptos, em 2012.
“Além do descontentamento evidente, nas regiões onde a ausência do Estado é
mais sentida, revela-se natural que o eleitor se faça mais ausente e
desinteressado”, disse.
Bate-papo - Antônio Spinelli
Cientista
político e professor da Universidade Federal do RN
Que leitura podemos fazer dessa redução no número
de eleitores no Estado?
À
primeira vista, a redução no número de eleitores é inesperada, uma vez que a
população do Estado e da capital cresceu nesse período. Porém, diversos fatores
devem ser considerados: o primeiro são as dificuldades do processo de
recadastramento, implicando que uma parcela residual do eleitorado não foi
adequadamente mobilizada para se recadastrar. Outro ponto: a pirâmide
demográfica vem sofrendo modificações devido à baixa da taxa de natalidade e ao
envelhecimento da população; com isso, cresce a faixa da população com mais de
70 anos, legalmente desobrigada do exercício do voto; é possível que parte
desses, por desinteresse ou por impossibilidade, tenha se alienado da política
eleitoral. Por outro lado, aqui o terceiro ponto, é possível que parte dos
jovens de 16 e 17 anos, legalmente aptos a votar mas não obrigados a isso,
tenham resolvido adiar a obtenção do título. Só é possível avaliar o impacto
desses fatores com dados estatísticos detalhados e precisos, que não temos
nesse momento.
O contexto político e de movimentos sociais podem
ter influenciado?
Não se
pode deixar de levar em conta a possível influência da atual conjuntura
política mundial e nacional, além de estadual, permeada por intensas
mobilizações de rua que formulam demandas ao sistema político como um todo e
atuam por fora do sistema representativo institucionalizado. Esses fatos,
juntamente com uma cobertura midiática que desvaloriza persistentemente a
política, podem conduzir certos estratos da população, sobretudo o estrato de
pessoas mais jovens, a se afastar da política eleitoral. Pode ser que tudo isso
venha a se refletir numa maior taxa de abstenção eleitoral e de votos nulos e
brancos. Não acredito, porém, que isso vá ao ponto de constituir uma
deslegitimação das eleições.
Quais implicações podem
trazer para o pleito de outubro, caso esta queda se mantenha ao final do
processo de regularização?
É difícil
saber o impacto sobre as eleições em si porque a não participação teria,
teoricamente, o sentido de recusa a todo o quadro partidário vigente. Mas, pode
ser indicativo do início de uma tendência a uma maior abstenção eleitoral nos
próximos pleitos.
Repórter Sara Vasconcelos
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